domingo, 24 de março de 2019

IGREJAFORMATADA.COM

Venancio Junior

Em plena era digital que já é algo “velho” quando não podemos dizer que seja novo, pois, muitos sequer conheceram o mundo fora da era digital, uma palavra que nos é bem familiar é a formatação. Em casos extremos em que o computador foi invadido por vírus e o desempenho devido ao uso constante, está comprometido, a formatação é a melhor e, talvez, em certos casos, a única solução para resolver o problema definitivamente. Mesmo sendo uma palavra relativamente nova que deriva de formar, o processo é novo, porém, a intenção não é algo novo. Formar, de certo modo é a partir do nada. Formatar é um pouco diferente que é trazer à forma original destruindo outra. A ação em formatar tem o propósito em dar uma nova forma, mesmo que nada mude do original, eliminando todos os elementos indesejáveis e nocivos ao sistema. Toda esta metáfora foi para trazer à tona uma realidade gritante nas igrejas e que precisa urgentemente ser debatido e questionado à luz da palavra de Deus. Sempre ouvimos falar que o povo de Deus (a igreja) é feliz e satisfeito. Isto se reflete (muitos acham e defendem que sim) nas igrejas, nos relacionamentos e na disposição em servir a Deus. Será que, de fato, isto acontece ou temos medo de questionar a própria espiritualidade a partir da nossa motivação? As igrejas são inclusivas e atraentes na coerência do que defendem e no que fazem? Cada pessoa pode desenvolver a sua pessoalidade dentro do sistema das igrejas? Sua criatividade e diversidade tem algum valor dentro da comunidade cristã que frequenta? Há algum incentivo para que Deus seja glorificado com aquilo que tens de melhor? São vários os questionamentos e as respostas, muitas vezes, não há uma sequer. Particularmente, acho que temos um só questionamento se invertermos os papéis, quando surge a indagação do que aconteceu com as igrejas, considerando que Deus é soberano e criador de tudo? Toda a natureza é bela e funcional, fruto de uma criatividade absoluta, pois, surgiu do nada físico que ainda não existia e que provocasse alguma inspiração. Considerando que somos um povo escolhido (I Pedro 2:10) e criados a sua imagem e semelhança, temos por natureza, criatividade e diversidade na sua execução através dos dons e talentos dados por Deus. Sou assumidamente, mesmo não sendo ainda avançado em idade, uma “raposa velha” de igreja. Conheço todas elas, de todos os tamanhos e de todos os tipos. Opa! De todos os tipos, não! Percebi que as igrejas assumiram uma cara sem coragem, tipo igreja formatada. Todas pregam a mesma coisa, porém, na unicidade do evangelho ainda falta alguns elementos. Em I Corintios 12:4,5 o apóstolo Paulo já dizia: “Existem diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o mesmo. Existem várias formas de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversas maneiras de atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos”. E no final do verso 11 define que o evangelho é o mesmo, porém, os dons são diversos e desenvolvidos de várias formas, “unidade na diversidade”. Este texto exemplifica que não podemos sufocar a criatividade concedida por Deus com a nossa pequenez. O evangelho, a partir de Cristo, nos permite a criatividade e a diversidade cultural. Este evangelho criativo e diverso, sem desprezar o princípio que permeia a redenção, não tem sido visto nas igrejas. Imagine uma igreja composta por 2000 pessoas onde todos pensam a mesma coisa e gostam das mesmas coisas? Difícil de acreditar que isto seja possível sem um regime que condicione as pessoas a pensarem igual. O evangelho é o mesmo, isto está fora de questão, mas, o formato da igreja não deve ser único de acordo com a liderança porque fica parecendo uma sociedade de autômatos onde são programados para desempenharem utilizando um único formato. O sistema atual da maioria delas transparece que a igreja pertence a uma classe de nobres enquanto os demais são plebeus para satisfazer a nobreza. Neste caso, onde fica a criatividade de Deus no talento das pessoas? Onde vivenciar as diversas formas de expressões pertencentes a Deus dedicadas as pessoas? Na conjuntura atual fica difícil servir sem o cabresto personalista. Talvez este seja o motivo principal de que a maior igreja e a que mais cresce seja a dos “desigrejados”. Segundo pesquisa, são mais de 20 milhões nos Estados Unidos e 10 milhões no Brasil que não deixaram de acreditar no evangelho, mas, na forma como é apresentado. Até quando a vaidade dos líderes e de grupos influentes da igreja será mais importante que a liberdade que temos em Cristo em sermos um só corpo criado por Ele? Afinal, o que é a igreja, senão, o povo escolhido por Deus e não pelos homens? 

Campinas, outono de 2019