quarta-feira, 25 de julho de 2018

VAMOS PARA CASA!

Venancio Junior

O pôr-do-sol é algo deslumbrante e no quintal da minha casa tenho este privilégio em apreciá-lo. Dias atrás, final de tarde, chegando em casa e, como algumas vezes faço quando já me sinto “desacelerado”, vou direto para o quintal e observo o sol se pondo. Com a vista para as árvores balançando, sinto uma leve brisa, e, coincidentemente naquele momento ímpar, ouvia aquelas grandes canções nas vozes dos grandes krooners Frank Sinatra, Tony Bennetti, Harry Connick Jr, Diana Krall, o desconhecido Matt Dusk e tantos outros acompanhados por grandes orquestras. Na rua de trás, tem uma escola muito arborizada e o sol se pondo entre as árvores é uma coisa muito linda. Particularmente, sou fissurado pelo final de tarde que é quando todos se recolhem, indo para as suas casas. O número de carros diminui e o silêncio “vai ocupando o seu espaço” e só ouvimos os pássaros findando os seus voos e os sons definem as diversas espécies que se aninham nas árvores. Com a mesma intensidade as pessoas também estão ansiosas para chegar às suas casas e tomar um revigorante banho, degustar uma bela janta e rever os seus familiares. Isto é muito confortável. Na escola também se ouve o sinal de fim de aula e as crianças e adolescentes correm, numa gritaria, cada um para as suas casas com toda a energia peculiar nesta fase maravilhosa da vida. Nada melhor que a segurança da nossa casa e também o conforto e o aconchego do nosso lar neste cotidiano. E não existe rotina mais gostosa do que voltar para casa. Quem não se lembra de quando a professora escrevia na “velha” lousa: “Para Casa”, que era a lição que deveríamos trazer na próxima aula e isto significava que a aula daquele dia acabara e iríamos voltar para casa. De certa forma, é para casa que voltamos, dando o sentido da nossa origem. Eu me extasiava em euforia. Minha casa estava sempre me esperando. Minha família estava lá sempre me esperando. Os meus brinquedos estavam lá também, como os deixei, me esperando. Isto também acontece nos filmes e quantas vezes assistimos os dramas onde tudo de ruim acontece seja um terremoto, um incêndio e até mesmo um sequestro e quando, no final do filme, tudo volta ao normal, alguém da família diz: “Vamos para casa!”. Que alívio! Na minha casa é onde me sinto seguro. Não conheço quem reclame desta rotina maravilhosa. Gosto muito de voltar para casa que é onde encontro literalmente o abrigo e o carinho que preciso. Afinal, em nossa casa é que nos sentimos confortáveis e seguros dentro de um contexto familiar. Infelizmente este contexto de família tem sido vítima das circunstâncias que cada um, muitas vezes é obrigado a se submeter. Outros, de livre escolha, decidem criar a família a seu próprio modo. Não entrarei no mérito desta questão porque envolve outros pormenores intimamente complexos. Mas, o lar é onde construímos os nossos valores, amadurecemos os nossos relacionamentos e contribuímos com a sociedade quando ensinamos os nossos filhos a enfrentar as dificuldades e os desafios da vida. Paz no lar. Lar doce lar. Todas estas frases denotam o desejo de cada um de ter um lar onde se “respire” conforto. Tal como aquela poltrona em que nos sentamos e não precisamos ficar nos remexendo para nos acomodar. Assim deve ser o lar onde não precisamos ficar nos “remexendo” tentando achar a melhor posição de conforto porque tudo o que desejamos e o que precisamos devemos encontrar no lar, a alegria da família. Nem tudo são flores no lar. Infelizmente, as contrariedades da vida atingem a todos sem escolher pessoas ou lugar e o lar tornou-se o alvo principal, seja numa crise conjugal, uma doença ou envolvimento dos filhos com drogas ou álcool, colocando em xeque a segurança do lar. A bíblia nos alerta sobre alguns procederes da coluna mestre do lar que é o casal formado pelo marido e a mulher. Sobre o homem, encontramos o alerta: “Qual a ave que vagueia longe do seu ninho, tal é o homem que anda vagueando longe do seu lugar”. Provérbios 27:8. Qual é o lugar do homem? Este texto não se refere exatamente a um lugar físico, mas, da responsabilidade e o seu compromisso como homem. Quando assume um relacionamento conjugal, o seu lar será o seu mundo onde todo esforço e dedicação deverão ser para propiciar segurança, conforto, alegria e prazer no convívio com aqueles que dependem do lar. Abrir mão desta responsabilidade é tornar vulnerável aquilo que lhe foi confiado. Quanto à mulher, não existe responsabilidade maior ou menor em relação ao homem, mesmo que aparentemente impute uma carga maior de trabalho. A bíblia mexe no cerne da questão quando lemos que “Toda mulher sábia edifica o seu lar. A insensata, com as próprias mãos o destrói”. Provérbios 14:1. Esta repreensão serve tanto para a mulher como para o homem. Toda ação deve ser feita com amor que, neste caso, é atitude que reflete diretamente no bem-estar do lar que o torna confortável mesmo em meio às dificuldades que a vida impõe. Muitos buscam este conforto no luxo que são situações díspares onde o piso, as portas e os utensílios de cada cômodo custaram uma pequena fortuna. O lar não se constrói com dinheiro e muito menos precisa do luxo. A casa serve para o conforto do nosso corpo abrigando-o do frio, da chuva e do calor, enquanto o lar é o conforto para o espírito. E é onde, também, compartilhamos sentimentos, sonhos, desejos, fazemos planos e traçamos metas. Creio que o maior exemplo, para este caso de desconforto é a do filho pródigo que, sem pensar, decidiu sair de casa. Deixou e menosprezou a segurança do seu lar para conhecer o mundo além das fronteiras da sua casa. (Lucas 15:13). Padeceu horrores sofrendo humilhações e privações do conforto da casa e do lar. Quando já não dispunha mais dos recursos que ainda o mantinham em condições decentes, sem opção, começou a se alimentar do que os porcos comiam e veio-lhe a lembrança do conforto da sua casa onde dispunha de roupas, uma cama confortável, comida à vontade e da melhor qualidade e, acima de tudo, o carinho da sua família. No versículo 18 dá-se a entender que ele disse: “Quero voltar pra casa!”. Nunca em sua vida ele valorizou tanto aquela rotina e “mesmice” da sua casa onde desfrutava do conforto do lar. Que situação decadente sofremos quando desprezamos a nossa casa e, consequentemente, perdemos o conforto do nosso lar. Não falo simplesmente de deixar a casa, mas o abandono do lar. Existem milhares de pessoas que não saíram das suas casas, mas estão distantes dos seus lares. Mesmo não abandonando a casa, muitos precisam voltar para o lar. Em contrapartida, mesmo saindo de suas casas para construir sua vida, existem também aqueles que, por motivos diversos, não estão sempre nas suas casas, mas não abandonaram o lar. O conforto do lar sempre está de “braços abertos”, mas quando perde este conforto ele deixa de ser um lar. Todos precisam de um lar. Não se trata de opção, mas de necessidade. Fora do lar estamos sujeitos às intempéries, as paixões lascivas, a insegurança diante das tragédias emocionais e corremos o risco de comer junto com tantos outros porcos sem lares. O lar é um lugar perfeito para pessoas imperfeitas como nós. O lar é onde nascemos, crescemos, amadurecemos. O lar é onde iniciamos a nossa vida. Quando abandonamos o lar nos perdemos e ficamos sem rumo. A caminhada espiritual nada mais é que o retorno ao lar. Quando pecamos perdemos o vínculo do lar e Jesus nos religa novamente a Deus e nos reconduz sendo Ele próprio o caminho no retorno ao lar. O lar é o nosso ponto de origem que é o ventre materno e o nosso ponto de destino que é o lar celestial.

sábado, 7 de julho de 2018

CRENÇAS

Venancio Jr.

Crer é algo natural no ser humano, seja no tudo, em alguma coisa ou no nada. De certa forma, até o incrédulo crê em alguma coisa porque para crer no nada precisa ter uma “fé dos diabos”.

O problema não é a capacidade em crer que sabemos que é natural, mas, naquilo que se crê e ao que as pessoas se submetem para potencializar suas crenças. Nunca se viu tantas crendices, simpatias e rituais para se conquistar ideais que denotam bem-estar e neste esforço adotam-se as mais diversificadas formas das mais diferentes ramificações religiosas. Inclui-se aí, um grupo de evangélicos que se sucumbiu à teologia da prosperidade e promove uma catarse sem precedentes. 

Crer instintivamente é a principal motivação para dar o próximo passo e avançar porque não se admite estagnação porque quando se deixa de crer, a vida entra num estágio de aparente morbidez.

Hoje não se consegue identificar a linha de crença de alguém apenas pelos seus rituais. A maioria tem um comportamento confuso provocado pela necessidade em eliminar as “brechas” do fracasso. Como se diz na linguagem popular quando alguém quer abraçar tudo de uma vez, “atira para todos os lados” porque não tem um alvo definido. Neste caso, tenta-se de tudo sem critérios e sem o cuidado em não piorar uma situação que ainda estava sob controle. O problema se agrava mais ainda quando algumas linhas religiosas associam o insucesso a problemas de espiritualidade. Este ambiente tem levado pessoas à exaustão emocional onde muitos até se entregam, mesmo contra vontade, aos seus fracassos e desistem da jornada em busca de uma “virada de mesa” da própria vida.

Mas o que é crer? Seria a mola propulsora da motivação? Deixar de crer é deixar de existir? Sabemos que crer é pensar à frente, avançar, enfrentar e superar os obstáculos. Os Coaching exploram esta capacidade de crer das pessoas para motivá-las emocionalmente. Se você levanta cedo todos os dias para trabalhar é porque crê que será recompensado, no mínimo por uma mera questão de sobrevivência o que já é relativamente uma grande motivação. Se você agenda compromissos é porque crê que o outro dia existe. Como ter certeza de algo quando não se tem qualquer controle que é o dia de amanhã? Como crer que os dias virão se não são controlados por si mesmo? Se você se alimenta é porque crê que esta ingestão irá te sustentar com os devidos nutrientes. Tudo isto é crer na fluidez natural das coisas. Quem controla o natural? O importante é que temos também esta crença antropológica. Crer é algo primordial, caso contrário o além jamais chegará e consequentemente o aquém nunca existiu.

Vamos desconsiderar as crenças esotéricas e refletir fria e introspectivamente em tudo aquilo que traz motivação. Será por tradição, adoção ou reflexão? Primeiramente tem de haver um auto questionamento. A autocrítica deve ser uma atitude diária e incessante. Deve-se questionar tudo o que se pensa e faz. Isto é sábio e também evita alguns equívocos, gerando com isto, boas oportunidades de amadurecimento. Quando escolhe algo é porque crê que é uma decisão certa e convicto de que o objetivo será atingido. Mal se sabe que, nem tudo o que é palpável fará diferença na vida, muitas vezes, nenhuma diferença. Isto se denomina futilidade quando se permanece na superfície da vida sem o devido e necessário aprofundamento. Incrível, mas escolhe-se coisas fúteis também. Por quê? Muitas vezes se é envolvido em ambientes nada sadios carregados de preconceito e tradições nocivas a sanidade espiritual. Este tipo de comportamento não é novo e vários embates já foram travados em busca do que seja certo ou errado.

Crer é inerente exclusivamente à espiritualidade? Geralmente quando se fala em crer logo associa-se à espiritualidade. O que é espiritualidade? Espiritualidade não é uma parte de nós. Tudo o que acontece fora é reflexo do que acontece no espírito. Então, podemos afirmar que tudo o que sentimos, pensamos ou fazemos tem reflexo espiritual. Do ponto de vista humano, espiritualidade não é uma exclusividade bíblica. A expressão do espírito é denominada esoterismo que abrange todas as linhas religiosas, incluindo as não cristãs. Vamos prosseguir, então, tendo como referência a Bíblia, porque cremos que o evangelho bíblico é divinamente inspirado conforme lemos em II Timóteo 3:16. Segundo a bíblia, não existem múltiplos caminhos para se chegar a alcançar a vida eterna, onde cada um escolhe o seu. Existe apenas um caminho, Jesus disse em João 14:6“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por mim”. O caminho do mal pode ser qualquer outro porque fora de Deus não há outro Salvador, Isaías 43:11. O próprio Jesus afirmou, “quem não é por mim, é contra mim”! Mateus 12:30 eliminando qualquer dúvida de que haja várias crenças com um mesmo objetivo.

A Bíblia tem inúmeras referências sobre crença ou sobre a fé que são expressões que se assemelham. A maioria delas já conhecemos exaustivamente e são todas desafiadoras, por isto que a misericórdia de Deus é infinita, se renova a cada dia e a sua graça superabundante nos sustenta frente a uma fé em frangalhos nos levando à nocaute de tão combalido que, sem estes predicados divinos, a fé não tem qualquer eficácia. A expressão da fé não se aplica num ambiente neutro porque revela o que você é e em quem confia. Um Deus em que apenas se acredita não faz qualquer diferença na vida porque se trata de uma relação superficial. Um Deus em que crê tem propensão a assumir compromisso entregando a vida que seria uma extrema atitude de confiança e isto acontece somente através da fé porque “...sem fé é impossível agradar a Deus”. Hebreus 11:6 e no versículo 1 deste mesmo capítulo fala o que seja a fé. É impossível praticar a fé com uma vida incrustada de tradições. Antes de se ter fé é preciso saber quais são as crenças que permeiam a espiritualidade humana. Acreditar, crer e confiar são múltiplas expressões onde acreditar é saber que Deus existe, porém, não assumindo qualquer compromisso. Crer é reconhecê-lo como Deus, sendo este o primeiro passo para efetivação da fé e o segundo é confiar que é a entrega de si mesmo a alguém em quem tenha plena confiança. A fé englobaria as três expressões, sendo o que define o caráter cristão.

A ratificação da crença tem uma essência abstrata ou concreta? A crença é a partir somente daquilo que é palpável? Jesus, logo depois da sua morte e ressurreição, conversa com Tomé que é famoso por crer somente naquilo que vê. Qual era o tipo de espiritualidade de Tomé que cria somente naquilo que era concreto? Tomé simplesmente não creu que era mesmo Jesus que havia ressuscitado e precisou que tocassem com os dedos nas feridas para dirimir toda a sua dúvida. E o mestre chamou-lhe a atenção como lemos em João 20:29: “Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram”. Não tiro totalmente a razão de Tomé em ver para crer, mas, isto não deve, em hipótese alguma, ser adotado como regra de fé. Talvez este posicionamento esteja associado mais à sua personalidade do que ao caráter. Jesus, como sempre, aliás, era a sua principal missão quebrar os paradigmas e contrariar a conformidade humana que sempre tinha uma visão exotérica quando enxergava somente o exterior. Exatamente este ponto que quero destacar. Milhões de pessoas creem somente naquilo que vê. São as chamadas “crendices”. Fabricam esculturas e criam imagens e creem piamente neles como um elo que os mantem conectados aos seus deuses. A idolatria nos move em ver para crer, enquanto a fé nos motiva a crer para ver. A cada dia surgem diversos referenciais para potencializar suas crenças. Crê-se em rituais, em fitinhas, em bruxas, em imagens, na natureza, no próprio ser humano, em animais e tudo aquilo que contraria os princípios bíblicos apresentados desde a criação de que há um só Deus e um só mediador entre Deus e o homem, Jesus Cristo homem. O texto de Isaias 45:20 derruba toda esta crendice idólatra quando afirma que “...nada sabem os que conduzem em procissão suas imagens de escultura, feita de madeira, suplicando a um deus que não pode salvar”. Toda ação em busca de resposta para a saciedade humana é subterfúgio para mudar o foco desviando a atenção daquilo que é verdadeiro e que acrescenta algo de concreto à vida e revela uma espiritualidade legítima.

Jesus como mediador, sendo o próprio Deus que peleja por nós(Deuteronômio 3:22) no seu curto e pujante ministério terreno sempre apresentava a opção “...quem crer será salvo, quem não crer será condenado” Marcos 16:16. Como dizem, foi “curto e grosso”. “Será salvo” porque ainda estamos em via de ser salvos e será condenado porque o fim dos tempos ainda não se consumou. Esta afirmação é porque todos foram destituídos da presença de Deus e para voltar à sua presença é preciso, primeiramente crer no seu único filho, Jesus Cristo e retornar à condição do princípio da criação.

A Bíblia não nos impõe regras, apenas sugere-nos o caminho expondo aquilo que é humanamente impossível, mas, para Deus tudo é possível (Marcos 10:27) e o próprio Jesus afirmou que “...tudo é possível ao que crê” Marcos 9:23 sendo Ele próprio a porta quando disse: “...eu sou a porta” João 10:9. É preciso crer, lembrando que esta crença não é desprovida de responsabilidade e disciplina. Qualquer estrutura tem os seus caminhos e destinos peculiares. Não escolha o caminho menos difícil. Escolha o caminho que tem início e fim designado por Deus que é a vida eterna. Desta forma, deve-se processar uma renúncia dos valores corrompidos na queda afim de provocar uma reavaliação daquilo que se crê. A crença em Deus é a porta de acesso à nossa integridade diante dEle. A crença depende do esvaziamento de nós mesmos porque o caminho designado pelo homem natural é de perdição e o homem espiritual precisa ser liberto desta profusão de crenças para que Deus aja pelo Espírito Santo fazendo valer a nossa crença. 

Campinas, julho de 2018