quinta-feira, 29 de março de 2018

A DOUTRINA DA PÁSCOA

Venancio Jr.

Considerando a distância milenar dos eventos, o que a libertação do povo hebreu da escravidão do Egito tem a ver com a morte e ressurreição de Jesus?

O primeiro evento provocou a comemoração da Páscoa pelos judeus e o segundo evento motivou a Páscoa dos cristãos.

Resumidamente vou apresentar o contexto da “captura”, condenação e morte de Jesus no contexto da festa da Páscoa dos judeus. Toda esta trama pode-se ler no livro de Marcos 14.

Páscoa quer dizer “passagem” do povo hebreu da escravidão do Egito rumo à terra prometida onde estariam livres. As comemorações da Páscoa originalmente é uma festa judaica (cerca de 1280 a. C.) celebrada basicamente com pães ázimos (sem fermento) e sacrifício de cordeiro relembrando a libertação do povo hebreu do cativeiro egípcio. Esta peregrinação foi marcada por diversas ocorrências onde a fé e a crença naquilo que lhes foi prometido por Deus foi amplamente testada. A Páscoa dos cristãos será que foi uma “coincidência”? Porque a condenação, morte e ressurreição de Jesus aconteceram na mesma época da celebração da Páscoa dos judeus! Na verdade, foi uma oportunidade para prenderem Jesus que, como judeu, também se fez presente nesta festa de grande vulto nesta época. Ele próprio afirmou que deveria ser assim em cumprimento às escrituras. A data da comemoração pelos cristãos foi estabelecida via decreto pelo Concílio de Nicéia no ano de 325 d. C. Os judeus ainda comemoram a Páscoa sem qualquer vínculo com a ressurreição de Jesus. Enquanto os cristãos nas suas celebrações da Páscoa, faz pouca referência à libertação dos hebreus.

Enquanto Jesus ainda não tinha sido preso, os discípulos estavam preparando a celebração da Páscoa. Era o primeiro dia das comemorações quando se fazia o sacrifício do cordeiro pascal. Neste ínterim, os discípulos perguntaram a Jesus onde poderia ser feito os preparativos e Jesus indicou qual seria o local. Quando já estavam acomodados, Jesus novamente se contrapondo às tradições judaicas, tomou a iniciativa em instituir um novo pacto e um novo sacrifício celebrando a primeira ceia como símbolo da nova aliança durante a celebração da Páscoa. Isto era uma afronta para os judeus, principalmente para a liderança religiosa que ainda não sabia e nem entendia que a ceia seria o Jesus rejeitado pelos judeus se apresentando como o cordeiro para o sacrifício. A escritura estava se cumprindo porque a partir daquele sacrifício vicário de Cristo não precisava mais qualquer outro para a remissão dos pecados.

Dois dias antes da celebração da Páscoa, os principais sacerdotes e os escribas (as mais importantes e influentes autoridades religiosas da época) procuraram uma forma de prender Jesus por traição. Estas autoridades não se conformavam com um estranho se “autodenominar” o Messias, o filho de Deus e até o próprio Deus e prometer que iria perdoar todos os pecados com o seu próprio sacrifício. Imagine toda esta “arrogância” de Jesus em meio a uma festa tipicamente judaica. Devido a esta festa, eles não queriam chamar a atenção, pois, Jesus havia conquistado uma certa popularidade e queriam evitar, desta forma, um tumulto que complicaria todo o esquema da prisão.

O assunto aqui não é abordar historicamente os dois episódios. Por incrível que pareça, há uma ligação que faz parte de um “megaprojeto” de Deus em resgate do ser humano. Iremos falar no que consiste a doutrina de ambos que é comemorado pelo mundo cristão, sendo muitas destas comemorações desprovidas da acuidade do significado e que, com o passar do tempo, assumiu também um caráter comercial quando os supermercados são invadidos pelos ovos de Páscoa (nada contra) numa clara evidência consumista porque a Páscoa tornou-se uma mera tradição especulativa. Estas comemorações cristãs de motivos religiosos estão cada dia mais vazio devido os corações daqueles que o comemoram estarem bem distantes dos fundamentos da doutrina bíblica e se apegam às tradições dos homens. Sequer sabem qual o significado da palavra páscoa. Nesta época e noutras festas religiosas, as igrejas são invadidas até por aqueles que raramente a frequentam ratificando esta forte tradição deste evento. Sobre isto, o próprio Jesus advertiu os mestres da lei e os fariseus conforme o texto de Marcos 7:8 “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens”.

O comportamento dos religiosos nos dias atuais não é diferente dos tempos da peregrinação do povo hebreu. Diante disto faço a seguinte indagação de qual é, de fato, o fundamento da doutrina que levou o povo hebreu a crer na terra prometida e que ficou conhecido como Páscoa? Primeiramente, precisamos saber um pouco sobre o autor da promessa e da redenção do povo hebreu e da humanidade. Mesmo sendo um único Deus e se manifestando posteriormente como três pessoas, a Trindade Divina é distinta nas ações e, por incrível que pareça, esta tríplice manifestação e ação foi para alcançar o entendimento humano. No velho testamento Deus se apresentou como luz e como fogo e de várias outras formas que, provavelmente não foram registradas. Deus, literalmente “tomando as dores” dos homens, se apresentou também em forma humana através de Jesus e veio para cumprir a sua doutrina e “consertar” as coisas reconduzindo-nos de volta ao caminho que é Ele próprio, “...Eu sou o caminho, a verdade e a vida!” João 14:6. Em Gálatas 4:6 diz que “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei...” A partir deste ponto chamo a atenção para um fato dentre muitos que aconteceram com Jesus no Novo Testamento, especificamente no livro de Marcos 1:22 “...E maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas. Este foi o comentário que surgiu sobre os ensinamentos de Jesus a respeito da sua doutrina porque os escribas, que documentavam através da escrita todos estes fatos começaram a interpretá-las de forma estranha. O mais importante é que muitos perceberam a autoridade nas palavras de Jesus e na sua doutrina, diferentemente do que estava acontecendo nas interpretações dos escribas, escreviam certo, mas a interpretação era muito equivocada. Os escribas e sacerdotes não gostaram nada desta “contraproposta” do Messias e as coisas andavam tão erradas no coração deles que as principais autoridades religiosas elaboraram um plano para matar Jesus, demonstrando claramente que eles já não mais seguiam a doutrina de Cristo. Interessante é que, quando seguimos a doutrina de Cristo confundimos até o adversário das nossas almas. Em Tito 2:7 a 10 diz: “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra integridade, sobriedade, linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se confunda, não tendo nenhum mal que dizer de nós”. Neste caso, podemos dizer que os sacerdotes e os escribas não conseguiram confundir o diabo porque já não estavam no caminho da doutrina, mas, sim, numa condição perigosa e fatal que é exatamente o que acontece com todos que se distanciam da doutrina de Cristo e se apegam à tradição da religião. Nesta condição, as nossas comemorações da Páscoa cumprirão apenas esta tradição com comidas, bebidas, ovo de chocolate e um comportamento que não confunde mais o diabo. A espiritualidade que buscamos e que confunde o nosso adversário nasce a partir de uma postura condizente a sã doutrina que Jesus pregou e com toda humildade deixou bem claro de quem era. Leia em João 7:15,16 “Então os judeus se admiravam, dizendo: Como sabe este letras, sem ter estudado?” Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou”. Questionar é algo que devemos fazer com discernimento e os judeus questionaram a intelectualidade e até a divindade de Jesus. O resultado disso é que, movidos pela soberba e até com certa veemência, não reconhecem a Jesus Cristo como o Messias até os dias atuais.

Mas, quem enviou Jesus senão o próprio Deus? Se Eles constituem a mesma pessoa então a doutrina é de Jesus, o Cristo e também do Espírito Santo. Antes de Jesus ascender ao céu, declarou que nos deixaria outro consolador, o Espírito Santo João 14:16. Em Isaías 09:06 diz que Jesus é o Deus forte e o Pai da eternidade e em João 10:30 Jesus afirma que Ele e Deus constituem-se a mesma pessoa. Deus é Pai em Espírito que gerou a Jesus que é Deus em carne e osso e o Espírito Santo é quem nos dá o discernimento para compreendermos o que, da sã doutrina, nos é suficiente, digo, o suficiente porque quem poderia nos explicar o amor de Deus que preenche integralmente o nosso ser? A sã doutrina não nos deixa desviar do caminho que nos foi ensinado de que Jesus é o mesmo ontem, hoje e o será eternamente (Hebreus 13:8). Mesmo surgindo vãs filosofias que alimentam as tradições e que são incondizentes com a palavra de Deus, podemos afirmar que não precisamos de novas doutrinas ou uma nova unção, mas, de ler e meditar dia e noite para que “o vento de doutrina” (Efésios 4:14) não nos levem a qualquer lugar e percamos o rumo certo da vitória que Jesus nos ensinou, “...tende bom ânimo, eu venci o mundo. João 16:33”.

Se naquela época era difícil compreender a mensagem do Cristo, hoje em dia tornou-se ainda mais pela facilidade em ser mal influenciado pelos milhares de aventureiros que se autodenominam profetas, bispos e apóstolos e que tem surgido através de milhares de grupos com doutrinas estranhas. Muitos usam de palavras doces e persuasivas, se autoproclamam possuidores de dons espirituais e choram diante das câmeras de televisão, nas emissoras de rádio e em várias igrejas. São também eloquentes nas pregações e até usam o nome de Deus e o fazem também em nome de Jesus. Falam de Deus e não vivem o que Deus fala. Falam de Jesus e não vivem o que Jesus fala. Cuidado com estes, o próprio Deus nos alerta disso. Leia Hebreus 13:9 "Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas; porque bom é que o coração se fortifique com a graça, e não com alimentos, que não trouxeram proveito algum aos que com eles se preocuparam". O termo “ventos de doutrina” é uma metáfora interessante porque o vento ninguém sabe de onde vem e nem para onde vai, pois, de certa forma, não tem raiz. Se nos deixarmos levar por estes ventos de doutrina seremos confundidos da mesma forma que o diabo ficou confundido com a doutrina de Cristo.

Quando Jesus foi crucificado e morto, o diabo supostamente “cantou a vitória”, porque em nenhum momento vimos alguma ação do diabo tentando impedir que Jesus morresse. O diabo ficou confundido com a morte de Jesus na cruz. Três dias após a sua morte, Jesus ressuscitou. O diabo entrou em “parafuso” de ver Jesus no inferno, tomar a chave da morte e voltar para Reino ao lado de Deus. O diabo não sabia o que estava acontecendo ficou estupefato e inerte diante desta atitude esplendorosa. Foi o golpe fatal sobre a morte. Como Jesus venceu a morte se as pessoas morrem e não voltam? A morte física não é o fim, mas, o começo da vida eterna. Jesus venceu a morte espiritual para a qual já estávamos condenados e veio para nos dar vida em abundância João 10:10. Sempre que se comemora a Páscoa o diabo lembra que a ressurreição foi o trunfo de Jesus Cristo e a maior vergonha que ele passou diante dos seus súditos. O “inimigo” esteve em seus próprios domínios e tomou-lhe a chave da vida e da morte. Quanta soberania e ousadia de Deus. Em todas as batalhas Ele peleja por nós. Esta guerra não é nossa, seres humanos porque Deus é soberano e domina sobre tudo e sobre todos e somente Ele é capaz de vencer o diabo. A peleja não é nossa, por isso que Deus intercedeu por nós enviando o seu filho Jesus Cristo para nos justificar. Até o diabo está sob o controle de Deus. O diabo não sabe de tudo o que acontece no mundo espiritual (lembre-se do texto acima descrito em Tito 2:7 a 10 em que o diabo se confundiu) por isso é que a palavra diz que devemos nos apresentar irrepreensíveis diante de Deus porque o diabo não reconhece aqueles que não são teus. E para que não sejamos confundidos e que Jesus nos reconheça, basta seguirmos a sua sã doutrina e guardá-la no coração. A tradição é boa e os bons costumes devem ser preservados, porém, o mais importante é enveredarmos pelo caminho da boa palavra de Deus onde lemos também: “Porque a Escritura diz: Ninguém que nele crê será confundido. Romanos 10:11.

Campinas, março de 2015

 

quinta-feira, 22 de março de 2018

O POSSÍVEL DE DEUS

Venancio Jr

Após descer, juntamente com Pedro, Tiago e João, do monte da transfiguração, Jesus encontrou uma multidão em redor de um endemoninhado e o pai deste indagou-O perguntando se poderia fazer alguma coisa que pudesse ajudá-lo. Jesus imediatamente respondeu: “Tudo é possível ao que crê” (Marcos 09:22,23). Que resposta maravilhosa! É tudo o que um pai desesperado queria ouvir. Porém, ao contrário do que se prega por aí que, por causa deste versículo, afirmam que Jesus é obrigado a dar tudo o que se quer, inclusive fazendo um “encaixe” com o texto de Lucas 1:37 em que o anjo diz a Maria que “..para Deus não há impossível”. A afirmação de Jesus é com a autoridade de quem é a verdade porque tudo está sob o controle absoluto de Deus Pai conforme o texto em Filipenses 02:13 “...porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”. Tudo deve ser submetido à vontade dEle. Em I João 05:14 diz que “...se pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, Ele nos ouve”. A palavra de Deus não deve ser utilizada fora do contexto bíblico. Neste caso, a submissão à sua vontade é fundamental. A crença a que nos referimos não deve ser descompromissada. Muitos colocam Deus a seu serviço e exige que Ele cumpra as suas promessas na conformidade humana. Os textos e contextos não podem se separar senão gera confusão e é o que acontece hoje em dia, doutrinas estranhas que levam pessoas a extremos comprometendo a fé. Na verdade, a fé que se pratica atualmente na maioria dos evangélicos é uma fé com fundamento espúrio. Nós devemos crer e também confiar. São coisas distintas. Crer é saber. Confiar é entregar. Muitos creem, mas não confiam em Deus. Creem que Ele existe e age no mundo, mas não confiam as suas vidas à Ele. Crer é o primeiro passo, confiar é o segundo passo. Paulo e Silas disseram ao carcereiro: “...crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa.” Atos 6:31. Este é um exemplo do primeiro passo. O exemplo do segundo passo nós encontramos no livro dos Salmos 37:5 “Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle e Ele tudo fará”. Onde começa a nossa crença? Em Romanos 10: 10 está escrito que “...com o coração cremos para a justiça e com a boca fazemos a confissão para salvação” e complementando com outro versículo onde diz “...porque fomos justificados pela fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (Gálatas 02:16). Será que existem palavras que explique melhor o que a Bíblia diz? Deus capacitou pessoas para interpretar a sua Palavra porque enganoso é o coração humano e passível de vãs interpretações. A própria Bíblia nos exorta sobre os maus doutrinadores, denominados na bíblia como usurpadores da Palavra de Deus que distorcem e a adaptam na conformidade humana. Primeiramente precisamos crer para iniciar o processo de transformação. Hebreus 11:6 “...porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe”. Este é apenas o início de um processo contínuo e ininterrompível para que a crença se ratifique na vida. O segundo passo e que faz parte do mesmo processo é a entrega. Ninguém entrega algo a quem não conheça. Esta entrega nada mais que aliviar a carga. O excessivo acúmulo de conceitos desgastados e que fragilizaram o emocional que torna difícil suportar, comprometendo fundamentalmente a espiritualidade. A única saída é esta entrega de extrema confiança a alguém que prometeu aliviar a carga. “Vinde a mim todos vós que está cansado e sobrecarregado e eu vos aliviarei”. Mateus 11:28. Todas as promessas de Deus são para o benefício humano permitindo, desta forma, leveza, prazer e bem-estar. Sabemos que é muito difícil entregar aquilo que se tem de valor. Valorizamos tudo o que adquirimos e a própria vida e nos tornamos envelhecidos porque é a velha criatura que dita as regras. A transformação propriamente dita é desvencilhar-se da velha criatura. “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (II Coríntios 5:17). Caso não haja entrega, as coisas velhas nunca passarão, consequentemente, nada se tornará novo. O que Deus nos propõe é viver o novo como lemos em Romanos 6:4b “...assim andemos nós também em novidade de vida”. Esta é uma contraproposta ao “pecado que nos envelhece por ocultá-los” Salmos 32:3. Interessante é que Deus interveio pessoalmente nesta questão do pecado, caso contrário, esta contraproposta não existiria. Desta forma, tudo se tornou possível a partir de Deus. Quando entregamos integralmente à Deus, nos submetemos ao seu total controle e o possível de Deus permeará o nosso ser.