sábado, 25 de novembro de 2017

A TRAIÇÃO NO BANCO DOS RÉUS

Venancio Junior

           Quem nunca traiu levante a mão!

Trair os amigos, trair os vizinhos, trair os pais, trair os irmãos, trair a esposa, trair o esposo, trair os filhos, trair o colega de trabalho, trair o pastor e até trair a si próprio é algo que está se tornando comum sem escolha das vítimas e dos feitores da traição. Eu acho que é quase impossível alguém que nunca tenha traído. 

Segundo os psicólogos, a traição é uma quebra de confiança profunda atingindo, principalmente, o emocional que fica em frangalhos dependendo do grau da traição. As consequências são inúmeras onde, a dignidade, a honra e a confiança são pulverizados. Nada é tão cruel quanto estes valores serem alvejados de forma tão estúpida. Um tapa na cara, um xingamento e um desprezo são difíceis de superar, porém, nada comparável a uma traição. Um ato de extremo desrespeito. A traição faz parte do grupo dos fracos porque serve somente para destruir. Os fortes agem para construir, enquanto os fracos, inconformados com as suas fraquezas, tentam destruir para que se sintam igualmente nivelados.

O que motiva alguém a trair? O princípio básico da traição é, em alguns casos, “levar vantagem” e em outros, “não ser passado para trás”. A traição é uma reação. No contexto profissional pode ser causada por ambição de cargo. No mundo financeiro a busca é por vantagens econômicas. Entre os amigos pode ser por conquistas visando uma promoção social. No ministério pastoral a traição acontece quando o traidor visa ter sua própria igreja. Muitas igrejas são frutos de traição que causaram divisões. No relacionamento conjugal onde as ocorrências, talvez, sejam mais evidentes, a insatisfação, a frustração e a vingança são os pilares da traição. Já ouvi de pessoas que traem de que o fizeram porque estava em crise conjugal ou não gostaria de ser passada para trás. Quem trai sempre perde a razão. Não há justificativa plausível para um comportamento absolutamente reprovável. Famílias, casais, colegas de trabalho, empresários, amigos, pastores, todos são potenciais vítimas e potenciais traidores. 

        A traição só é caracterizada no compromisso com alguém em quem confiamos. Não existe traição do inimigo porque não temos e nem assumimos compromisso com um inimigo. Quem assumiria compromisso com um inimigo? Temos compromisso com alguém que temos um grau de intimidade. Quanto mais íntimo e mais próxima a pessoa, mais profunda é a dor da traição. A traição se delineia no íntimo. Começa bem pequeno e toma proporções gigantescas e incontroláveis tendo como ato final a quebra de compromisso.

Como reagir a traição? Não existe receita para as causas após o fato consumado. Os efeitos serão avassaladores. O emocional é a parte mais afetada e que, bem administrado, faz toda a diferença na recuperação. A princípio, o ressentimento é o pior dos sintomas e deve ser imediatamente controlado e todas as ações, mesmo contra a vontade, deverão ser canalizadas no sentido de reconstruir.

No contexto bíblico, a traição mudou o rumo da história. Todos conhecem a estultice de Pedro, inclusive, negando (que é um grau de traição) a Jesus. Temos outro caso, talvez mais famoso, o de Judas quando entregou Jesus às autoridades para crucificá-lo. Interessante é que as pessoas que traíram Jesus durante o seu ministério foram as aparentemente “corretas” e acima de qualquer suspeita.  Jesus sofreu traição por quase todos que o seguiam. Os religiosos o traíram. As autoridades o traíram. Alguns dos apóstolos o traíram e Judas era um deles que o traiu até com um certo cinismo. Os que não traíram a Jesus e permaneceram fiéis após ouvir a mensagem de salvação, conforme relato bíblico, foram as prostitutas, ladrões, leprosos, viúvas e tantos outros marginalizados. Cristo conhecia o coração de todos. Por que Jesus se surpreendia ficando chateado com a traição mesmo conhecendo as intenções de cada um? Jesus recusou sua condição de Deus e tornou-se humano porque sempre acreditou nas pessoas e esperava que confiassem nele. A maior prova disto é que entregou sua própria vida, por causa de uma traição, para que todos fossem libertos, inclusive quem o traiu.

Uma grande evidência de traição é falar que é cristão, evangélico ou protestante e ter uma vida espiritual incondizente com os princípios bíblicos. Para não sermos pegos na traição, precisamos ter uma vida íntegra com Deus nos relacionamentos familiar, social e profissional. Problemas sempre teremos por que no mundo sofremos aflições e demonstramos fraqueza quando utilizamos as nossas armas para resolver problemas internos e externos. Uma vida íntegra glorifica a Deus pelas vitórias e também pelas dificuldades e provações e submete a Deus suas aflições e angústias.  O apóstolo Paulo afirmou que somos fortes quando estamos fracos (II Coríntios 12:10) se permanecermos confiantes naquele que mesmo o traindo não guarda ressentimento das nossas traições.