domingo, 1 de outubro de 2017

A REFORMA PROTESTANTE E A EXEGESE DA RELIGIÃO

Venancio Junior
A reforma protestante promovida por Martinho Lutero em 1517 completa em outubro seus 500 anos. Ressalto que este termo não foi cunhado neste período, pois, surgiu 100 anos após este levante de Lutero.
Considerando que somos uma religião monoteísta, porque precisou de uma reforma? Será que foi em função de que mudaram as doutrinas e impuseram outras novas e deixamos de seguir a doutrina de Deus? No livro de Marcos 7:8, o próprio Jesus, durante o seu ministério na terra, advertiu os mestres da lei e os fariseus dizendo: “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens”. Percebemos que a reforma se fez necessária muito antes de Lutero e se faz necessária até nos dias de hoje.
Pelo que consta na história, Martinho Lutero não teve a intenção em trazer uma nova doutrina ou promover uma reforma, mas, relevar à consciência da igreja a doutrina original. A proposta de qualquer reforma no contexto bíblico tem o objetivo em voltar a atenção às doutrinas originais. Podemos afirmar, então, que Moisés, Noé, Abraão e tantos outros também foram reformadores no sentido de trazer à luz o povo que se perdia em meio às doutrinas estranhas e suas práticas abomináveis.
A questão doutrinária, qualquer que seja, é polêmica, controversa e extremamente complexa e, devido a extensa margem de interpretação, não sofre o processo de ilação. Gostaria muito de ter usado o aforismo e resolver tudo rapidamente sem dar chances a qualquer questionamento, mas, optei em ser o mais sucinto possível para não tornar a leitura extenuante e enfadonha procurando ser o mais inteligível possível.  Os recursos na busca de respostas não foram exauridos para não denotar de que esteja insistindo numa linha de interpretação. Para qualquer regra, existe a disciplina, caso contrário, o objetivo pela qual foi criada não será atingido. Contrariamente ao que aprendemos, a doutrina bíblica não é um campo murado e veio para nos libertar das nossas tradições.
Em qualquer processo regulatório, incluindo as doutrinas bíblicas, o objetivo é chegar a um determinado fim de forma coesa sem o atropelo das práticas de origem duvidosa. Para evitar isto, adota-se uma linha de conduta com regras e costumes que identificam pessoas individualmente ou em grupos. Desde os tempos antigos até os dias atuais, qualquer pessoa ou instituição instintivamente cria a sua característica peculiar pelos costumes, regras e manias desenvolvendo, assim, a sua tradição. Cria-se com isto uma cultura assimilada por todos aqueles em que haja algum tipo de envolvimento. Isto é muito valorizado definindo, com isto, os diversos grupos rotulados. Em qualquer um deles que seja intencionalmente ou não organizado, isto acontece naturalmente e não há meios em fugir destes “rótulos”. Uma família, por exemplo, tem os seus costumes e manias que são adotados pelas gerações seguintes. É normal e, de certa forma, salutar no sentido de preservar as raízes e o histórico de como foram formados. Um povo sem memória é um povo sem história. O nosso jeito de ser, nossos costumes, manias e nossas características são reconhecidos pelas ações identificadas. As instituições seguem o mesmo princípio e são conhecidas por seguir as regras gerando uma marca de referência. Quem nunca ouviu falar, “somos uma empresa de princípios” ou “sou uma pessoa de princípio”. Isto é para demonstrar a qualidade, pois, os princípios identificam a origem.
No caso das doutrinas bíblicas e costumes religiosos que caracterizam as denominações, há o problema de que cada um é convicto de que esteja certo na sua interpretação, daí, surge um grave problema em que se tenta convencer o outro que está errado ao invés de se permitir antes de qualquer embate uma autocrítica e, principalmente, o discernimento espiritual. Como resolver isto? A fonte é a mesma, porém, as doutrinas são diferentes na aplicabilidade. Nas relações, sejam pessoais ou institucionais, os conflitos devido a estes costumes, são inevitáveis, intensos e muitas vezes tensos. O termo invasão de privacidade geralmente acontece quando o costume do outro sofre violação. Deve haver o respeito mútuo para que a convivência seja a mais pacífica possível porque estamos imersos num mundo cheio de doutrinas. Imagine conviver com mais de 33.000 religiões? Somente na Índia, dentro da religião predominante, o Hinduísmo, existem mais de 330 milhões de deuses. Dentro deste imbróglio religioso, onde acontecem ações extremas de intolerância, o respeito à doutrina de cada religião é a única forma eficaz de evitar conflitos desnecessários.
Desde que nascemos, ouvimos falar de Deus e das regras que precisamos seguir para sermos “bonzinhos” e merecermos o céu. Quem nunca ouviu, quando era criança, que o “papai do céu” está sempre com a gente para espantar os nossos medos? Nesta fase da vida, nunca questionamos se precisávamos também estar perto de Deus. Todo o esforço e obrigação no estreitamento desta relação eram de Deus e não cabia a nós qualquer iniciativa. Crescemos e trazemos na bagagem tudo o que nos foi ensinado em relação a sermos bons porque Deus “gosta somente das pessoas boazinhas”.
Tornamo-nos maduros e com autonomia de pensamento e começamos a criar a nosso modo, as maneiras em que ficaríamos perto de Deus. Ainda não nos sentíamos na obrigação em buscar a sua presença. Gostamos da ideia do livre pensamento em fazer o que bem entender e como quiser, assim, criamos o nosso jeito próprio em manter Deus próximo de nós, principalmente nas horas difíceis. Como seres independentes no pensar, relutamos em nos condescender a outras ideias e criamos a nossa própria “sentença”. Conhecemos o ditado de que cada cabeça tem a sua. Por isto surgiram tantas interpretações ao longo dos séculos na tentativa de se criar rituais para tornar Deus “disponível” sem se aperceber de que nós quem precisamos retornar a sua presença. Deus voluntariamente já se dispôs na pessoa de Cristo. A intenção de qualquer doutrina cristã ou não, é regular e convergir ações para se manter de alguma forma ligados a um ser superior. A única certeza para se chegar a Deus é Jesus que é o caminho, a verdade e a vida. Tenho plena convicção de que tudo o que se faz e vale à pena é para promoção do Reino de Deus.
Após a queda do homem e a consequente expulsão do paraíso (Romanos 3:23), surgiu um vazio espiritual do “tamanho exato” de Deus. O desejo em preenchê-lo leva o homem a esta busca incessante e cada um, à sua maneira, o faz e repassa. Lembramos daquela historinha de alguém que conta algo e vai passando adiante e no final, a historinha mudou completamente, sobraram somente as centenas de milhares de versões. Verdade só existe uma, as demais, são versões, nada mais que palavras em formato de ideias sem raízes jogadas ao vento. Esta busca frustrada torna o vazio ainda maior e as pessoas acabam se apegando a várias doutrinas estranhas. Eu questiono porque muitas das versões doutrinárias beiram o absurdo. De tempos em tempos surgem “novos reformadores” que a bíblia os classifica como usurpadores, cuja intenção é dar uma "nova cara" as doutrinas bíblicas e também a de se criar outras. O que ouvimos hoje? Muitas pregações induzem as pessoas ao erro que é o caminho da doutrina dos homens. A minha intenção não é polemizar e nem desmerecer os que se dedicam a obra do evangelho de forma honesta, mas, ser um contraponto que incentive a uma reflexão doutrinária. Aqueles que surgiram como “reformadores” depois de Lutero, creio que, apenas expuseram suas opiniões e interpretações, muitas delas sendo consideradas como doutrinas, daí, surgindo no protestantismo várias linhas denominacionais. Pessoalmente creio que não haja necessidade de uma “reforma da reforma” que é o grande “alimentador” do ecumenismo, uma filosofia herege, que aceita todas as linhas religiosas cristãs ou não cristãs, que nada mais é que um sincretismo religioso adotado por alguns líderes que, aproveitando este “espírito permissivo”, criaram suas próprias denominações com interpretações esdrúxulas, muita criancice e nenhum compromisso com a doutrina bíblica. Posso dizer que utilizam o evangelho da conveniência. Este evangelho de “salada doutrinária” mantem o foco somente naquilo que convém para encher os templos e não provocar o sentimento a partir do arrependimento de pecado. São os chamados falsos mestres, algo muito antigo e amplamente discorrido na bíblia. Falso é aquilo que parece muito com o original que até seduz, mas, é somente aparência, nada acrescenta que provoque alguma mudança. Muitos destes líderes, simplesmente não existiriam se tivéssemos um pouquinho mais de discernimento. Estes líderes são frutos da ignorância do povo.
Se você é membro comungante de uma linha religiosa cristã reformada, pentecostal, neopentecostal, carismática, ortodoxa ou qualquer outra ramificação e julga que está tudo certo, não posso tirar-lhe a razão sabendo que toda a referência de esclarecimento deve ter como base a bíblia sagrada. O que não se pode é fugir daquilo que a bíblia diz com o discernimento do Espírito Santo. Podemos afirmar que a carne não discerne o espiritual (I Coríntios 2:14) porque a razão obscurece a compreensão pela fé. A palavra de Deus quando lida com a mente, nos fará apenas “convencido”. O apóstolo Paulo em I Coríntios 3:6 atentou que as cartas que escrevia às igrejas seriam letras mortas se não fossem vivificadas pelo espírito. A letra da doutrina pode indicar o caminho, mas, torna-se morta quando não exprime o processo de salvação. Findando o caminho das letras, tudo se converge na dependência da graça de Deus que é algo inexplicável. Aqui não se trata de um conhecimento intelectual, mas, principalmente, de ratificar a nossa fé naquele que é a razão de ser da existência, Deus encarnado em Jesus, tornando-se homem para que a sua mensagem de salvação fosse acessível a todos. Quando há o discernimento do Espírito Santo, somos, então, convertidos, muda-se o caráter e a perspectiva porque atinge não só a mente, como também, o coração que é o propósito único no processo de resgate do ser humano para uma nova vida e não para uma nova religião.
Eu defino a religião dos homens da seguinte forma, criaram uma caixinha e colocaram Deus dentro dela e deixaram especificados no manual do usuário de que Deus só agiria dentro dos limites e conforme aquela caixinha. O problema é que cada pessoa tem a sua caixinha, aqueles que não a tem, se conformam na caixinha de outrem e acabam adotando a mesma visão, podemos dizer do “dono” daquela caixinha. Esta “caixinha”, no caso, pode ser o templo feito por mãos humanas. No livro de Atos 17:24, o apóstolo Paulo quando falava, inclusive para alguns filósofos gregos no areópago afirmou que Deus não habita em templos feito por mãos humanas. Isto foi uma reação de Paulo frente à devoção exacerbada dos atenienses aos ídolos espalhados pela cidade. No livro de Jeremias 31:34 o próprio Deus atentou-nos de que “...seria conhecido no interior de cada um de nós, desde os mais jovens até os velhos e dos mais pobres até os ricos”. Creio que estes textos demonstram que, na concepção divina, a doutrina da verdadeira religião é amar a Deus acima de todas as coisas e na disposição em servi-lo, fazer discípulos e proclamar a vinda do seu Reino.
Como o assunto aqui trata especificamente de doutrinas da religião, costumes e manias, vamos seguir em frente consultando a nossa fonte de referência que é a bíblia. Primeiramente, vamos definir o que é a religião e qual é a certa. Algo que devemos esclarecer é que religião não é igreja. A religião conhecida por nós foi criada pelos homens. Encontramos na bíblia (I Timóteo 5:4) trechos que definem a religião como atitude de amor e dedicação no amparo aos necessitados. Deus não criou nenhuma religião. Deus tornou-se homem em Jesus para criar uma só igreja dotada de missão. Quando deixa de cumpri-la, consequentemente deixa de ser igreja. Jesus abriu mão da sua condição de Deus para estabelecer parâmetros e, assim, cumprir a sua missão na terra. No livro de Tiago 1:26, 27 há um questionamento sobre a verdadeira religião e o texto, particularmente acho, que desmistifica a religião identificada dentre quatro paredes e mostra que a missão da igreja é o cuidado às pessoas. Deus delegou esta missão nobre à igreja que é reconduzir as pessoas à sua presença pela sua doutrina e não pela religião. “Jesus disse: Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura(Marcos 16:15). Todos são necessitados e devem ser alcançados pela verdadeira religião que é atitude de amparo e amor. Interessante que até o exemplo da leviandade foi utilizado como lemos no livro de Tiago 1:26, “...se alguém cuida ser religioso e não refreia a sua língua, a sua religião é vã”. Muitos fatos discorridos na bíblia foram consoantes a situações vividas. Provavelmente havia muita gente “linguaruda”. Será que hoje ainda temos este problema? Na sequência do texto lemos a definição da religião pura e imaculada que é cuidar das viúvas e dos órfãos nas suas necessidades e se guardar da corrupção do mundo. Aqui novamente uma situação exemplificada nas necessidades da época. Estas ações de apoio às viúvas e aos órfãos não é o sentido literal do que seja a religião. Devemos atentar-nos na disposição em doar-se a uma causa profundamente justa e não ter o mesmo sentimento do mundo. Apesar de ser muito associada a dinheiro, mas, a corrupção é, em suma, quebra de princípio. Lembramos do texto de Romanos 12:2 "...não vos conformeis com este mundo". Não se conformar é não desprezar os princípios da palavra de Deus e ter uma vida coerente com estes princípios. É exatamente isto que lemos em Romanos 2:16O crente deve ser fiel a Palavra”. A religião é o que você sente (fé) e faz (obras). Ambas completam a ação. A ausência de uma anula a autenticidade da outra.
Pois bem, rituais, doutrinas, costumes, idolatria, mandinga, amuletos e tantas outras formas de culto ou de crença são práticas que foram repassadas e acompanham o ser humano há muito tempo. Caim e Abel faziam os seus rituais de oferenda a Deus (Gênesis 4:3,4) em cumprimento ao que lhes foram determinados para se manter na sua presença. Outro caso bem típico também que envolve a devoção aconteceu com Moisés quando teve uma tremenda “dor de cabeça” com aqueles que o seguiam e acreditavam na terra prometida. Na sua ausência, o povo se perdia e criava, à sua própria maneira, os seus métodos e costumes. O mais famoso deles foi o bezerro de ouro (Êxodo 32:1,4) em que o povo construiu e começou a adorar a Deus através desta estátua. Este é um grande exemplo de heresia e idolatria, pois, criaram algo abominável a Deus para adorá-lo. Lembramos também da estátua de ouro construída pelo rei da babilônia, Nabucodonosor (Daniel 3:1). O rei determinou que fossem jogados na fornalha quem não se curvasse perante a estátua. Mesaque, Sadraque e Abede-Nego se recusaram a se ajoelhar diante daquela enorme estátua e foram lançados na fornalha. Não se queimaram porque a presença sobrenatural de um anjo os livrou daquele costume idólatra do rei e que foi assimilada pelo povo que preferia o caminho errado, nem tanto pela religiosidade, mas, creio que um misto de ignorância, coação e também o medo do sofrimento e consequente morte. Após este maravilhoso episódio de livramento, o rei determinou que o Deus verdadeiro fosse, a partir de então, adorado e quem contrariasse, a casa se tornaria entulho queimado. Deus não mandou o rei aplicar esta disciplina, mas, era o seu jeito peculiar de reinar. Um perfeito exemplo de extremismo religioso.
Muitas das práticas dos homens são desvios de caráter ou até mesmo manias que nada tem a ver com as verdades bíblicas. Muitos a confundem com os bons costumes relatado por Paulo no livro de I Coríntios 15:33 em que as más companhias corrompem os bons costumes e, completando com as minhas palavras, estas más companhias, além de corrompê-las, impõem os seus maus costumes. Os bons costumes devem ser preservados como lemos no novo testamento, mas, mesmo sendo salutar, não são doutrinas. Um costume muito difundido é a ideia de que não importam os meios, mas, sim o propósito. A integridade cristã exige práticas corretas com propósito correto. Paulo foi um reformador no sentido de dar o direcionamento correto conforme a doutrina original. Em nenhum momento ele quis criar sua própria doutrina. Este é o papel do reformador e não a de criar uma nova doutrina. O apóstolo Paulo na carta de I Coríntios 1:12 sofreu este problema quando questionou de quem era o evangelho que ele pregava, de Paulo, de Apolo, de Cefas ou de Cristo? Ainda na carta de I Coríntios 2:4 também se defrontou com o dilema de quem estava certo e corrigiu as pessoas que andavam segundo os padrões dos homens dizendo que as suas palavras não eram persuasivas de sabedoria, mas, demonstravam espírito de poder. No capítulo 3 da mesma carta, no versículo 11, ele afirma que ninguém pode colocar outro fundamento além do que já está posto. O fundamento da doutrina é Jesus Cristo. Inclusive, as próprias palavras de Jesus foram mal interpretadas quando falou a Pedro de que sobre esta pedra edificaria a sua igreja. Que pedra é esta? Pedro havia afirmado de que Cristo é o filho do Deus vivo. Esta é a doutrina onde Jesus edificaria a igreja verdadeira, fundamentada na palavra viva de Cristo e não dos homens. Com isto inventaram que Jesus estava se referindo à pessoa de Pedro, desde então, os papas são sucessores de Pedro na condução da igreja católica. Jesus é o principal e grande reformador, vindo em “carne e osso” para fazer uma nova reforma, porém, nas bem-aventuranças (Mateus 5:16), enfatizou de que não veio mudar as leis, mas, cumpri-las. A proposta da reforma é exatamente trazer as pessoas de volta à luz da palavra de Deus.
Os costumes na bíblia são amplamente discorridos e adequados à cada época e a cada tribo. No antigo testamento, especificamente no livro de Levítico no capítulo 18, Deus se referiu aos costumes dos homens como abomináveis e no capítulo 20, Deus falou com Moisés destes maus costumes e a prática deles era algo muito grave que mandava até matar quem os praticasse. Ainda no antigo testamento no livro de Jeremias 10, Deus falando a Israel, citou outro mau costume que é o da idolatria afirmando que os costumes dos homens são vaidade. Por mais justo e nobre que sejam, mesmo sendo bons costumes, o cuidado a família, ao trabalho, a saúde ou qualquer outra coisa “boa” que se faça não podem ser adotados como algo que ratifique um caminho legitimo de aparente bondade como meio de se aproximar de Deus. Muitas outras práticas que têm sido adotadas como doutrinas em várias religiões cristãs ou não, falam de aproximação, intimidade com Deus ou mesmo salvação, porém, demonstram equívocos e desconhecimento da escritura sagrada onde se encontram os fundamentos da nossa relação com Deus.
Não sou mais um que impõe considerações. Minha intenção não é fechar questão sobre a minha opinião que deve ser desconsiderada. O meu esforço é trazer de forma simples, a perspectiva bíblica do assunto. Sabendo que o Espírito Santo é quem nos dá o discernimento das escrituras, devemos ler a bíblia com a mente e o coração e questionar todas as explanações bíblicas e ao mesmo tempo ser humilde em receber a exortação da palavra, bem como, a repreensão e orientação quando necessárias.
O propósito da doutrina de Deus é exatamente trazer de volta o homem à sua presença. Para isto, existe um processo em como alcançar esta dádiva e isto foi concedido graciosamente pelo próprio Deus. O mais importante é a legitimidade do que se faz e como se faz.  O ser humano, devido à personalidade que, obviamente, é individual, tende a dar a sua interpretação das palavras e dos textos e contextos. Apesar de ser um erro a forma como é feita, cada religião faz a sua leitura, interpreta e a adota como doutrina. É uma situação delicada, pois, todos que a interpretam estão em iguais condições, ou seja, seres humanos dotados de inteligência que expõem à sua maneira a consideração do assunto. Os “líderes espirituais”, sejam eles quaisquer, faz as suas considerações e impõem as suas avaliações e reavaliações e no final a doutrina original é totalmente descaracterizada. Devido a isto, surgem de tempos em tempos os reformadores trazendo, não uma nova doutrina, mas, trazendo o povo de volta à luz da palavra.
Após algumas centenas de anos deste tempo, como dizem, bíblico, lembramos da indignação de Martinho Lutero, um fundamental reformador da igreja, quando, em 1517, apresentou 95 teses doutrinárias que ele julgava corretas demonstrando que muita coisa estava errada em relação aos fundamentos da doutrina bíblica, principalmente na questão da salvação que se adquiria pela compra de indulgência. Popularmente dizem que pregou no portão da igreja do castelo de Wittenberg, porém, parece que historicamente ele as enviou diretamente ao arcebispo e ao bispo diocesano. De qualquer, forma foi uma decisão extremamente ousada que lhe causou uma excomunhão e retaliações pela liderança da igreja católica que, até então, era a única igreja cristã. Lembramos que ainda não existia a chamada igreja evangélica. Após a indignação de Lutero, houve cisão na igreja cristã que se dividiu entre católicos e "luteranos". As aspas significa que esta terminologia denominacional ainda não existia oficialmente. O termo "protestante" surgiu após o Reichstag (assembleia dos príncipes) decidir em 1529 restaurar o catolicismo romano na Alemanha e conter os luteranos que protestaram contra esta decisão. Atualmente existem várias ramificações desta cisma no cristianismo. Isto gerou uma confusão sem precedentes o que dificulta demasiadamente a compreensão da palavra de Deus. O absurdo é tamanho que até a própria palavra descrita na bíblia sofre esta distorção. A bíblia é o melhor livro do mundo, porém, quando mal interpretada, torna-se doutrina dos homens que é maldita. O apóstolo Paulo afirmou isto na carta aos Gálatas 1:8 e repete isto no verso seguinte de que qualquer evangelho fora daquele descrito na bíblia que foi pregado é anátema, ou seja, maldito. Paulo foi extremamente severo porque se trata de algo muito sério. Tão sério que o próprio Jesus, numa de suas peregrinações em cumprimento à sua missão, enfatizou dizendo, ...quem não é por ele, é contra ele. Quem não ajunta, espalhaMateus 12:30. Jesus Cristo também nos alerta, quando respondeu aos saduceus que era um grupo social e economicamente influente de que erravam por não conhecerem as escrituras, Mateus 22:29. Conhecer não é ter as letras na mente e nem saber quantos livros tem a bíblia ou os detalhes históricos. Jesus quis dizer que a palavra deve estar não só na mente, mas, principalmente no coração, quando fará diferença nas atitudes. Nossas atitudes revelam o que somos ou a que igreja pertencemos? Quem nunca se perguntou ou ouviu de alguém de qual era a verdadeira igreja? Eu já me “desmistifiquei” desta crendice de que pertenço à igreja a ou b considerando que seja a verdadeira igreja. A denominação que se reúne nos templos tem a função de convergir as ações em cumprimento a doutrina de Deus porque a igreja, de fato, fundada por Jesus Cristo, funciona em cada um de nós e a missão é a de levar as pessoas a Cristo. Quando Jesus se revoltou com os vendilhões no templo, foi um gesto para demonstrar que o templo construído não deve ter outra finalidade que não seja casa de oração para todos os povos (Mateus 21:12).
Poderia aproveitar este tema e relacionar alguns exemplos de pontos doutrinários que sempre me incomodaram. Como a intenção não é fazer mais uma reforma, não fui a esmiúça dos assuntos para não provocar um julgamento de que esteja sendo insistente ou que seja algo conclusivo. Algumas explanações de doutrinas cristãs, dentre centenas, carecem de embasamento bíblico e que devem ser questionadas à luz da bíblia porque a má interpretação induz a pessoa ao caminho errado. Algumas não encontramos na bíblia, enquanto outras encontramos, porém, são aplicadas equivocadamente. O que é bíblico não foi inventado pelo homem, mas, foi direcionado aos homens, inspirado pelo Espírito Santo. Toda liderança eclesiástica deve incentivar o povo a ler e meditar na palavra de Deus tendo o discernimento do Espírito Santo e não se restringir a interpretação dos homens. Algumas práticas de várias outras igrejas que se julgam cristãs são indubitáveis heresias que, de tão absurdas, não precisaria mais que meia dúzia de palavras para comprovar que estão erradas.
Não sou o dono da verdade, mas, sigo a verdade que é Cristo. Não posso afirmar que uma determinada igreja cristã seja a certa ou errada. Da mesma forma não posso aceitar que todas as religiões estejam certas, isto seria ecumenismo, já exemplificado, quando considera que todas as igrejas levam a Deus. Não existe a igreja certa. Existe o caminho certo. A igreja concreta é dos homens. A igreja sobrenatural é de Cristo porque o reino de Deus está dentro de nós. A igreja de Cristo é o indivíduo que crê e segue a sua doutrina. Deus trata e cuida da igreja na intimidade de cada um de nós. Os fundamentos da doutrina de Cristo devem estar no coração. A doutrina bíblica deve ser assimilada na nossa vida em todos os lugares e em qualquer situação para que sejamos igreja e haja integridade na devoção. De certa forma, não importa a igreja-instituição que frequente, diferente nos costumes, mas, a doutrina fundamentada em Cristo deve ser comum a todos. Fazer discípulo à luz da doutrina de Deus é o papel do reformador. Cada um de nós alcançados por esta doutrina genuína de Deus é um reformador em potencial.
A verdade na doutrina bíblica é Jesus Cristo, que é o princípio e o fim de todas as coisas:Porque o fim da Lei é Cristo, para justificação de todo o que crê. Romanos 10:4”

Campinas, SP, julho de 2017
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