sábado, 25 de novembro de 2017

A TRAIÇÃO NO BANCO DOS RÉUS

Venancio Junior

           Quem nunca traiu levante a mão!

Trair os amigos, trair os vizinhos, trair os pais, trair os irmãos, trair a esposa, trair o esposo, trair os filhos, trair o colega de trabalho, trair o pastor e até trair a si próprio é algo que está se tornando comum sem escolha das vítimas e dos feitores da traição. Eu acho que é quase impossível alguém que nunca tenha traído. 

Segundo os psicólogos, a traição é uma quebra de confiança profunda atingindo, principalmente, o emocional que fica em frangalhos dependendo do grau da traição. As consequências são inúmeras onde, a dignidade, a honra e a confiança são pulverizados. Nada é tão cruel quanto estes valores serem alvejados de forma tão estúpida. Um tapa na cara, um xingamento e um desprezo são difíceis de superar, porém, nada comparável a uma traição. Um ato de extremo desrespeito. A traição faz parte do grupo dos fracos porque serve somente para destruir. Os fortes agem para construir, enquanto os fracos, inconformados com as suas fraquezas, tentam destruir para que se sintam igualmente nivelados.

O que motiva alguém a trair? O princípio básico da traição é, em alguns casos, “levar vantagem” e em outros, “não ser passado para trás”. A traição é uma reação. No contexto profissional pode ser causada por ambição de cargo. No mundo financeiro a busca é por vantagens econômicas. Entre os amigos pode ser por conquistas visando uma promoção social. No ministério pastoral a traição acontece quando o traidor visa ter sua própria igreja. Muitas igrejas são frutos de traição que causaram divisões. No relacionamento conjugal onde as ocorrências, talvez, sejam mais evidentes, a insatisfação, a frustração e a vingança são os pilares da traição. Já ouvi de pessoas que traem de que o fizeram porque estava em crise conjugal ou não gostaria de ser passada para trás. Quem trai sempre perde a razão. Não há justificativa plausível para um comportamento absolutamente reprovável. Famílias, casais, colegas de trabalho, empresários, amigos, pastores, todos são potenciais vítimas e potenciais traidores. 

        A traição só é caracterizada no compromisso com alguém em quem confiamos. Não existe traição do inimigo porque não temos e nem assumimos compromisso com um inimigo. Quem assumiria compromisso com um inimigo? Temos compromisso com alguém que temos um grau de intimidade. Quanto mais íntimo e mais próxima a pessoa, mais profunda é a dor da traição. A traição se delineia no íntimo. Começa bem pequeno e toma proporções gigantescas e incontroláveis tendo como ato final a quebra de compromisso.

Como reagir a traição? Não existe receita para as causas após o fato consumado. Os efeitos serão avassaladores. O emocional é a parte mais afetada e que, bem administrado, faz toda a diferença na recuperação. A princípio, o ressentimento é o pior dos sintomas e deve ser imediatamente controlado e todas as ações, mesmo contra a vontade, deverão ser canalizadas no sentido de reconstruir.

No contexto bíblico, a traição mudou o rumo da história. Todos conhecem a estultice de Pedro, inclusive, negando (que é um grau de traição) a Jesus. Temos outro caso, talvez mais famoso, o de Judas quando entregou Jesus às autoridades para crucificá-lo. Interessante é que as pessoas que traíram Jesus durante o seu ministério foram as aparentemente “corretas” e acima de qualquer suspeita.  Jesus sofreu traição por quase todos que o seguiam. Os religiosos o traíram. As autoridades o traíram. Alguns dos apóstolos o traíram e Judas era um deles que o traiu até com um certo cinismo. Os que não traíram a Jesus e permaneceram fiéis após ouvir a mensagem de salvação, conforme relato bíblico, foram as prostitutas, ladrões, leprosos, viúvas e tantos outros marginalizados. Cristo conhecia o coração de todos. Por que Jesus se surpreendia ficando chateado com a traição mesmo conhecendo as intenções de cada um? Jesus recusou sua condição de Deus e tornou-se humano porque sempre acreditou nas pessoas e esperava que confiassem nele. A maior prova disto é que entregou sua própria vida, por causa de uma traição, para que todos fossem libertos, inclusive quem o traiu.

Uma grande evidência de traição é falar que é cristão, evangélico ou protestante e ter uma vida espiritual incondizente com os princípios bíblicos. Para não sermos pegos na traição, precisamos ter uma vida íntegra com Deus nos relacionamentos familiar, social e profissional. Problemas sempre teremos por que no mundo sofremos aflições e demonstramos fraqueza quando utilizamos as nossas armas para resolver problemas internos e externos. Uma vida íntegra glorifica a Deus pelas vitórias e também pelas dificuldades e provações e submete a Deus suas aflições e angústias.  O apóstolo Paulo afirmou que somos fortes quando estamos fracos (II Coríntios 12:10) se permanecermos confiantes naquele que mesmo o traindo não guarda ressentimento das nossas traições.

 

domingo, 1 de outubro de 2017

A REFORMA PROTESTANTE E A EXEGESE DA RELIGIÃO

Venancio Junior
A reforma protestante promovida por Martinho Lutero em 1517 completa em outubro seus 500 anos. Ressalto que este termo não foi cunhado neste período, pois, surgiu 100 anos após este levante de Lutero.
Considerando que somos uma religião monoteísta, porque precisou de uma reforma? Será que foi em função de que mudaram as doutrinas e impuseram outras novas e deixamos de seguir a doutrina de Deus? No livro de Marcos 7:8, o próprio Jesus, durante o seu ministério na terra, advertiu os mestres da lei e os fariseus dizendo: “...E assim abandonais o mandamento de Deus, apegando-vos às tradições dos homens”. Percebemos que a reforma se fez necessária muito antes de Lutero e se faz necessária até nos dias de hoje.
Pelo que consta na história, Martinho Lutero não teve a intenção em trazer uma nova doutrina ou promover uma reforma, mas, relevar à consciência da igreja a doutrina original. A proposta de qualquer reforma no contexto bíblico tem o objetivo em voltar a atenção às doutrinas originais. Podemos afirmar, então, que Moisés, Noé, Abraão e tantos outros também foram reformadores no sentido de trazer à luz o povo que se perdia em meio às doutrinas estranhas e suas práticas abomináveis.
A questão doutrinária, qualquer que seja, é polêmica, controversa e extremamente complexa e, devido a extensa margem de interpretação, não sofre o processo de ilação. Gostaria muito de ter usado o aforismo e resolver tudo rapidamente sem dar chances a qualquer questionamento, mas, optei em ser o mais sucinto possível para não tornar a leitura extenuante e enfadonha procurando ser o mais inteligível possível.  Os recursos na busca de respostas não foram exauridos para não denotar de que esteja insistindo numa linha de interpretação. Para qualquer regra, existe a disciplina, caso contrário, o objetivo pela qual foi criada não será atingido. Contrariamente ao que aprendemos, a doutrina bíblica não é um campo murado e veio para nos libertar das nossas tradições.
Em qualquer processo regulatório, incluindo as doutrinas bíblicas, o objetivo é chegar a um determinado fim de forma coesa sem o atropelo das práticas de origem duvidosa. Para evitar isto, adota-se uma linha de conduta com regras e costumes que identificam pessoas individualmente ou em grupos. Desde os tempos antigos até os dias atuais, qualquer pessoa ou instituição instintivamente cria a sua característica peculiar pelos costumes, regras e manias desenvolvendo, assim, a sua tradição. Cria-se com isto uma cultura assimilada por todos aqueles em que haja algum tipo de envolvimento. Isto é muito valorizado definindo, com isto, os diversos grupos rotulados. Em qualquer um deles que seja intencionalmente ou não organizado, isto acontece naturalmente e não há meios em fugir destes “rótulos”. Uma família, por exemplo, tem os seus costumes e manias que são adotados pelas gerações seguintes. É normal e, de certa forma, salutar no sentido de preservar as raízes e o histórico de como foram formados. Um povo sem memória é um povo sem história. O nosso jeito de ser, nossos costumes, manias e nossas características são reconhecidos pelas ações identificadas. As instituições seguem o mesmo princípio e são conhecidas por seguir as regras gerando uma marca de referência. Quem nunca ouviu falar, “somos uma empresa de princípios” ou “sou uma pessoa de princípio”. Isto é para demonstrar a qualidade, pois, os princípios identificam a origem.
No caso das doutrinas bíblicas e costumes religiosos que caracterizam as denominações, há o problema de que cada um é convicto de que esteja certo na sua interpretação, daí, surge um grave problema em que se tenta convencer o outro que está errado ao invés de se permitir antes de qualquer embate uma autocrítica e, principalmente, o discernimento espiritual. Como resolver isto? A fonte é a mesma, porém, as doutrinas são diferentes na aplicabilidade. Nas relações, sejam pessoais ou institucionais, os conflitos devido a estes costumes, são inevitáveis, intensos e muitas vezes tensos. O termo invasão de privacidade geralmente acontece quando o costume do outro sofre violação. Deve haver o respeito mútuo para que a convivência seja a mais pacífica possível porque estamos imersos num mundo cheio de doutrinas. Imagine conviver com mais de 33.000 religiões? Somente na Índia, dentro da religião predominante, o Hinduísmo, existem mais de 330 milhões de deuses. Dentro deste imbróglio religioso, onde acontecem ações extremas de intolerância, o respeito à doutrina de cada religião é a única forma eficaz de evitar conflitos desnecessários.
Desde que nascemos, ouvimos falar de Deus e das regras que precisamos seguir para sermos “bonzinhos” e merecermos o céu. Quem nunca ouviu, quando era criança, que o “papai do céu” está sempre com a gente para espantar os nossos medos? Nesta fase da vida, nunca questionamos se precisávamos também estar perto de Deus. Todo o esforço e obrigação no estreitamento desta relação eram de Deus e não cabia a nós qualquer iniciativa. Crescemos e trazemos na bagagem tudo o que nos foi ensinado em relação a sermos bons porque Deus “gosta somente das pessoas boazinhas”.
Tornamo-nos maduros e com autonomia de pensamento e começamos a criar a nosso modo, as maneiras em que ficaríamos perto de Deus. Ainda não nos sentíamos na obrigação em buscar a sua presença. Gostamos da ideia do livre pensamento em fazer o que bem entender e como quiser, assim, criamos o nosso jeito próprio em manter Deus próximo de nós, principalmente nas horas difíceis. Como seres independentes no pensar, relutamos em nos condescender a outras ideias e criamos a nossa própria “sentença”. Conhecemos o ditado de que cada cabeça tem a sua. Por isto surgiram tantas interpretações ao longo dos séculos na tentativa de se criar rituais para tornar Deus “disponível” sem se aperceber de que nós quem precisamos retornar a sua presença. Deus voluntariamente já se dispôs na pessoa de Cristo. A intenção de qualquer doutrina cristã ou não, é regular e convergir ações para se manter de alguma forma ligados a um ser superior. A única certeza para se chegar a Deus é Jesus que é o caminho, a verdade e a vida. Tenho plena convicção de que tudo o que se faz e vale à pena é para promoção do Reino de Deus.
Após a queda do homem e a consequente expulsão do paraíso (Romanos 3:23), surgiu um vazio espiritual do “tamanho exato” de Deus. O desejo em preenchê-lo leva o homem a esta busca incessante e cada um, à sua maneira, o faz e repassa. Lembramos daquela historinha de alguém que conta algo e vai passando adiante e no final, a historinha mudou completamente, sobraram somente as centenas de milhares de versões. Verdade só existe uma, as demais, são versões, nada mais que palavras em formato de ideias sem raízes jogadas ao vento. Esta busca frustrada torna o vazio ainda maior e as pessoas acabam se apegando a várias doutrinas estranhas. Eu questiono porque muitas das versões doutrinárias beiram o absurdo. De tempos em tempos surgem “novos reformadores” que a bíblia os classifica como usurpadores, cuja intenção é dar uma "nova cara" as doutrinas bíblicas e também a de se criar outras. O que ouvimos hoje? Muitas pregações induzem as pessoas ao erro que é o caminho da doutrina dos homens. A minha intenção não é polemizar e nem desmerecer os que se dedicam a obra do evangelho de forma honesta, mas, ser um contraponto que incentive a uma reflexão doutrinária. Aqueles que surgiram como “reformadores” depois de Lutero, creio que, apenas expuseram suas opiniões e interpretações, muitas delas sendo consideradas como doutrinas, daí, surgindo no protestantismo várias linhas denominacionais. Pessoalmente creio que não haja necessidade de uma “reforma da reforma” que é o grande “alimentador” do ecumenismo, uma filosofia herege, que aceita todas as linhas religiosas cristãs ou não cristãs, que nada mais é que um sincretismo religioso adotado por alguns líderes que, aproveitando este “espírito permissivo”, criaram suas próprias denominações com interpretações esdrúxulas, muita criancice e nenhum compromisso com a doutrina bíblica. Posso dizer que utilizam o evangelho da conveniência. Este evangelho de “salada doutrinária” mantem o foco somente naquilo que convém para encher os templos e não provocar o sentimento a partir do arrependimento de pecado. São os chamados falsos mestres, algo muito antigo e amplamente discorrido na bíblia. Falso é aquilo que parece muito com o original que até seduz, mas, é somente aparência, nada acrescenta que provoque alguma mudança. Muitos destes líderes, simplesmente não existiriam se tivéssemos um pouquinho mais de discernimento. Estes líderes são frutos da ignorância do povo.
Se você é membro comungante de uma linha religiosa cristã reformada, pentecostal, neopentecostal, carismática, ortodoxa ou qualquer outra ramificação e julga que está tudo certo, não posso tirar-lhe a razão sabendo que toda a referência de esclarecimento deve ter como base a bíblia sagrada. O que não se pode é fugir daquilo que a bíblia diz com o discernimento do Espírito Santo. Podemos afirmar que a carne não discerne o espiritual (I Coríntios 2:14) porque a razão obscurece a compreensão pela fé. A palavra de Deus quando lida com a mente, nos fará apenas “convencido”. O apóstolo Paulo em I Coríntios 3:6 atentou que as cartas que escrevia às igrejas seriam letras mortas se não fossem vivificadas pelo espírito. A letra da doutrina pode indicar o caminho, mas, torna-se morta quando não exprime o processo de salvação. Findando o caminho das letras, tudo se converge na dependência da graça de Deus que é algo inexplicável. Aqui não se trata de um conhecimento intelectual, mas, principalmente, de ratificar a nossa fé naquele que é a razão de ser da existência, Deus encarnado em Jesus, tornando-se homem para que a sua mensagem de salvação fosse acessível a todos. Quando há o discernimento do Espírito Santo, somos, então, convertidos, muda-se o caráter e a perspectiva porque atinge não só a mente, como também, o coração que é o propósito único no processo de resgate do ser humano para uma nova vida e não para uma nova religião.
Eu defino a religião dos homens da seguinte forma, criaram uma caixinha e colocaram Deus dentro dela e deixaram especificados no manual do usuário de que Deus só agiria dentro dos limites e conforme aquela caixinha. O problema é que cada pessoa tem a sua caixinha, aqueles que não a tem, se conformam na caixinha de outrem e acabam adotando a mesma visão, podemos dizer do “dono” daquela caixinha. Esta “caixinha”, no caso, pode ser o templo feito por mãos humanas. No livro de Atos 17:24, o apóstolo Paulo quando falava, inclusive para alguns filósofos gregos no areópago afirmou que Deus não habita em templos feito por mãos humanas. Isto foi uma reação de Paulo frente à devoção exacerbada dos atenienses aos ídolos espalhados pela cidade. No livro de Jeremias 31:34 o próprio Deus atentou-nos de que “...seria conhecido no interior de cada um de nós, desde os mais jovens até os velhos e dos mais pobres até os ricos”. Creio que estes textos demonstram que, na concepção divina, a doutrina da verdadeira religião é amar a Deus acima de todas as coisas e na disposição em servi-lo, fazer discípulos e proclamar a vinda do seu Reino.
Como o assunto aqui trata especificamente de doutrinas da religião, costumes e manias, vamos seguir em frente consultando a nossa fonte de referência que é a bíblia. Primeiramente, vamos definir o que é a religião e qual é a certa. Algo que devemos esclarecer é que religião não é igreja. A religião conhecida por nós foi criada pelos homens. Encontramos na bíblia (I Timóteo 5:4) trechos que definem a religião como atitude de amor e dedicação no amparo aos necessitados. Deus não criou nenhuma religião. Deus tornou-se homem em Jesus para criar uma só igreja dotada de missão. Quando deixa de cumpri-la, consequentemente deixa de ser igreja. Jesus abriu mão da sua condição de Deus para estabelecer parâmetros e, assim, cumprir a sua missão na terra. No livro de Tiago 1:26, 27 há um questionamento sobre a verdadeira religião e o texto, particularmente acho, que desmistifica a religião identificada dentre quatro paredes e mostra que a missão da igreja é o cuidado às pessoas. Deus delegou esta missão nobre à igreja que é reconduzir as pessoas à sua presença pela sua doutrina e não pela religião. “Jesus disse: Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura(Marcos 16:15). Todos são necessitados e devem ser alcançados pela verdadeira religião que é atitude de amparo e amor. Interessante que até o exemplo da leviandade foi utilizado como lemos no livro de Tiago 1:26, “...se alguém cuida ser religioso e não refreia a sua língua, a sua religião é vã”. Muitos fatos discorridos na bíblia foram consoantes a situações vividas. Provavelmente havia muita gente “linguaruda”. Será que hoje ainda temos este problema? Na sequência do texto lemos a definição da religião pura e imaculada que é cuidar das viúvas e dos órfãos nas suas necessidades e se guardar da corrupção do mundo. Aqui novamente uma situação exemplificada nas necessidades da época. Estas ações de apoio às viúvas e aos órfãos não é o sentido literal do que seja a religião. Devemos atentar-nos na disposição em doar-se a uma causa profundamente justa e não ter o mesmo sentimento do mundo. Apesar de ser muito associada a dinheiro, mas, a corrupção é, em suma, quebra de princípio. Lembramos do texto de Romanos 12:2 "...não vos conformeis com este mundo". Não se conformar é não desprezar os princípios da palavra de Deus e ter uma vida coerente com estes princípios. É exatamente isto que lemos em Romanos 2:16O crente deve ser fiel a Palavra”. A religião é o que você sente (fé) e faz (obras). Ambas completam a ação. A ausência de uma anula a autenticidade da outra.
Pois bem, rituais, doutrinas, costumes, idolatria, mandinga, amuletos e tantas outras formas de culto ou de crença são práticas que foram repassadas e acompanham o ser humano há muito tempo. Caim e Abel faziam os seus rituais de oferenda a Deus (Gênesis 4:3,4) em cumprimento ao que lhes foram determinados para se manter na sua presença. Outro caso bem típico também que envolve a devoção aconteceu com Moisés quando teve uma tremenda “dor de cabeça” com aqueles que o seguiam e acreditavam na terra prometida. Na sua ausência, o povo se perdia e criava, à sua própria maneira, os seus métodos e costumes. O mais famoso deles foi o bezerro de ouro (Êxodo 32:1,4) em que o povo construiu e começou a adorar a Deus através desta estátua. Este é um grande exemplo de heresia e idolatria, pois, criaram algo abominável a Deus para adorá-lo. Lembramos também da estátua de ouro construída pelo rei da babilônia, Nabucodonosor (Daniel 3:1). O rei determinou que fossem jogados na fornalha quem não se curvasse perante a estátua. Mesaque, Sadraque e Abede-Nego se recusaram a se ajoelhar diante daquela enorme estátua e foram lançados na fornalha. Não se queimaram porque a presença sobrenatural de um anjo os livrou daquele costume idólatra do rei e que foi assimilada pelo povo que preferia o caminho errado, nem tanto pela religiosidade, mas, creio que um misto de ignorância, coação e também o medo do sofrimento e consequente morte. Após este maravilhoso episódio de livramento, o rei determinou que o Deus verdadeiro fosse, a partir de então, adorado e quem contrariasse, a casa se tornaria entulho queimado. Deus não mandou o rei aplicar esta disciplina, mas, era o seu jeito peculiar de reinar. Um perfeito exemplo de extremismo religioso.
Muitas das práticas dos homens são desvios de caráter ou até mesmo manias que nada tem a ver com as verdades bíblicas. Muitos a confundem com os bons costumes relatado por Paulo no livro de I Coríntios 15:33 em que as más companhias corrompem os bons costumes e, completando com as minhas palavras, estas más companhias, além de corrompê-las, impõem os seus maus costumes. Os bons costumes devem ser preservados como lemos no novo testamento, mas, mesmo sendo salutar, não são doutrinas. Um costume muito difundido é a ideia de que não importam os meios, mas, sim o propósito. A integridade cristã exige práticas corretas com propósito correto. Paulo foi um reformador no sentido de dar o direcionamento correto conforme a doutrina original. Em nenhum momento ele quis criar sua própria doutrina. Este é o papel do reformador e não a de criar uma nova doutrina. O apóstolo Paulo na carta de I Coríntios 1:12 sofreu este problema quando questionou de quem era o evangelho que ele pregava, de Paulo, de Apolo, de Cefas ou de Cristo? Ainda na carta de I Coríntios 2:4 também se defrontou com o dilema de quem estava certo e corrigiu as pessoas que andavam segundo os padrões dos homens dizendo que as suas palavras não eram persuasivas de sabedoria, mas, demonstravam espírito de poder. No capítulo 3 da mesma carta, no versículo 11, ele afirma que ninguém pode colocar outro fundamento além do que já está posto. O fundamento da doutrina é Jesus Cristo. Inclusive, as próprias palavras de Jesus foram mal interpretadas quando falou a Pedro de que sobre esta pedra edificaria a sua igreja. Que pedra é esta? Pedro havia afirmado de que Cristo é o filho do Deus vivo. Esta é a doutrina onde Jesus edificaria a igreja verdadeira, fundamentada na palavra viva de Cristo e não dos homens. Com isto inventaram que Jesus estava se referindo à pessoa de Pedro, desde então, os papas são sucessores de Pedro na condução da igreja católica. Jesus é o principal e grande reformador, vindo em “carne e osso” para fazer uma nova reforma, porém, nas bem-aventuranças (Mateus 5:16), enfatizou de que não veio mudar as leis, mas, cumpri-las. A proposta da reforma é exatamente trazer as pessoas de volta à luz da palavra de Deus.
Os costumes na bíblia são amplamente discorridos e adequados à cada época e a cada tribo. No antigo testamento, especificamente no livro de Levítico no capítulo 18, Deus se referiu aos costumes dos homens como abomináveis e no capítulo 20, Deus falou com Moisés destes maus costumes e a prática deles era algo muito grave que mandava até matar quem os praticasse. Ainda no antigo testamento no livro de Jeremias 10, Deus falando a Israel, citou outro mau costume que é o da idolatria afirmando que os costumes dos homens são vaidade. Por mais justo e nobre que sejam, mesmo sendo bons costumes, o cuidado a família, ao trabalho, a saúde ou qualquer outra coisa “boa” que se faça não podem ser adotados como algo que ratifique um caminho legitimo de aparente bondade como meio de se aproximar de Deus. Muitas outras práticas que têm sido adotadas como doutrinas em várias religiões cristãs ou não, falam de aproximação, intimidade com Deus ou mesmo salvação, porém, demonstram equívocos e desconhecimento da escritura sagrada onde se encontram os fundamentos da nossa relação com Deus.
Não sou mais um que impõe considerações. Minha intenção não é fechar questão sobre a minha opinião que deve ser desconsiderada. O meu esforço é trazer de forma simples, a perspectiva bíblica do assunto. Sabendo que o Espírito Santo é quem nos dá o discernimento das escrituras, devemos ler a bíblia com a mente e o coração e questionar todas as explanações bíblicas e ao mesmo tempo ser humilde em receber a exortação da palavra, bem como, a repreensão e orientação quando necessárias.
O propósito da doutrina de Deus é exatamente trazer de volta o homem à sua presença. Para isto, existe um processo em como alcançar esta dádiva e isto foi concedido graciosamente pelo próprio Deus. O mais importante é a legitimidade do que se faz e como se faz.  O ser humano, devido à personalidade que, obviamente, é individual, tende a dar a sua interpretação das palavras e dos textos e contextos. Apesar de ser um erro a forma como é feita, cada religião faz a sua leitura, interpreta e a adota como doutrina. É uma situação delicada, pois, todos que a interpretam estão em iguais condições, ou seja, seres humanos dotados de inteligência que expõem à sua maneira a consideração do assunto. Os “líderes espirituais”, sejam eles quaisquer, faz as suas considerações e impõem as suas avaliações e reavaliações e no final a doutrina original é totalmente descaracterizada. Devido a isto, surgem de tempos em tempos os reformadores trazendo, não uma nova doutrina, mas, trazendo o povo de volta à luz da palavra.
Após algumas centenas de anos deste tempo, como dizem, bíblico, lembramos da indignação de Martinho Lutero, um fundamental reformador da igreja, quando, em 1517, apresentou 95 teses doutrinárias que ele julgava corretas demonstrando que muita coisa estava errada em relação aos fundamentos da doutrina bíblica, principalmente na questão da salvação que se adquiria pela compra de indulgência. Popularmente dizem que pregou no portão da igreja do castelo de Wittenberg, porém, parece que historicamente ele as enviou diretamente ao arcebispo e ao bispo diocesano. De qualquer, forma foi uma decisão extremamente ousada que lhe causou uma excomunhão e retaliações pela liderança da igreja católica que, até então, era a única igreja cristã. Lembramos que ainda não existia a chamada igreja evangélica. Após a indignação de Lutero, houve cisão na igreja cristã que se dividiu entre católicos e "luteranos". As aspas significa que esta terminologia denominacional ainda não existia oficialmente. O termo "protestante" surgiu após o Reichstag (assembleia dos príncipes) decidir em 1529 restaurar o catolicismo romano na Alemanha e conter os luteranos que protestaram contra esta decisão. Atualmente existem várias ramificações desta cisma no cristianismo. Isto gerou uma confusão sem precedentes o que dificulta demasiadamente a compreensão da palavra de Deus. O absurdo é tamanho que até a própria palavra descrita na bíblia sofre esta distorção. A bíblia é o melhor livro do mundo, porém, quando mal interpretada, torna-se doutrina dos homens que é maldita. O apóstolo Paulo afirmou isto na carta aos Gálatas 1:8 e repete isto no verso seguinte de que qualquer evangelho fora daquele descrito na bíblia que foi pregado é anátema, ou seja, maldito. Paulo foi extremamente severo porque se trata de algo muito sério. Tão sério que o próprio Jesus, numa de suas peregrinações em cumprimento à sua missão, enfatizou dizendo, ...quem não é por ele, é contra ele. Quem não ajunta, espalhaMateus 12:30. Jesus Cristo também nos alerta, quando respondeu aos saduceus que era um grupo social e economicamente influente de que erravam por não conhecerem as escrituras, Mateus 22:29. Conhecer não é ter as letras na mente e nem saber quantos livros tem a bíblia ou os detalhes históricos. Jesus quis dizer que a palavra deve estar não só na mente, mas, principalmente no coração, quando fará diferença nas atitudes. Nossas atitudes revelam o que somos ou a que igreja pertencemos? Quem nunca se perguntou ou ouviu de alguém de qual era a verdadeira igreja? Eu já me “desmistifiquei” desta crendice de que pertenço à igreja a ou b considerando que seja a verdadeira igreja. A denominação que se reúne nos templos tem a função de convergir as ações em cumprimento a doutrina de Deus porque a igreja, de fato, fundada por Jesus Cristo, funciona em cada um de nós e a missão é a de levar as pessoas a Cristo. Quando Jesus se revoltou com os vendilhões no templo, foi um gesto para demonstrar que o templo construído não deve ter outra finalidade que não seja casa de oração para todos os povos (Mateus 21:12).
Poderia aproveitar este tema e relacionar alguns exemplos de pontos doutrinários que sempre me incomodaram. Como a intenção não é fazer mais uma reforma, não fui a esmiúça dos assuntos para não provocar um julgamento de que esteja sendo insistente ou que seja algo conclusivo. Algumas explanações de doutrinas cristãs, dentre centenas, carecem de embasamento bíblico e que devem ser questionadas à luz da bíblia porque a má interpretação induz a pessoa ao caminho errado. Algumas não encontramos na bíblia, enquanto outras encontramos, porém, são aplicadas equivocadamente. O que é bíblico não foi inventado pelo homem, mas, foi direcionado aos homens, inspirado pelo Espírito Santo. Toda liderança eclesiástica deve incentivar o povo a ler e meditar na palavra de Deus tendo o discernimento do Espírito Santo e não se restringir a interpretação dos homens. Algumas práticas de várias outras igrejas que se julgam cristãs são indubitáveis heresias que, de tão absurdas, não precisaria mais que meia dúzia de palavras para comprovar que estão erradas.
Não sou o dono da verdade, mas, sigo a verdade que é Cristo. Não posso afirmar que uma determinada igreja cristã seja a certa ou errada. Da mesma forma não posso aceitar que todas as religiões estejam certas, isto seria ecumenismo, já exemplificado, quando considera que todas as igrejas levam a Deus. Não existe a igreja certa. Existe o caminho certo. A igreja concreta é dos homens. A igreja sobrenatural é de Cristo porque o reino de Deus está dentro de nós. A igreja de Cristo é o indivíduo que crê e segue a sua doutrina. Deus trata e cuida da igreja na intimidade de cada um de nós. Os fundamentos da doutrina de Cristo devem estar no coração. A doutrina bíblica deve ser assimilada na nossa vida em todos os lugares e em qualquer situação para que sejamos igreja e haja integridade na devoção. De certa forma, não importa a igreja-instituição que frequente, diferente nos costumes, mas, a doutrina fundamentada em Cristo deve ser comum a todos. Fazer discípulo à luz da doutrina de Deus é o papel do reformador. Cada um de nós alcançados por esta doutrina genuína de Deus é um reformador em potencial.
A verdade na doutrina bíblica é Jesus Cristo, que é o princípio e o fim de todas as coisas:Porque o fim da Lei é Cristo, para justificação de todo o que crê. Romanos 10:4”

Campinas, SP, julho de 2017
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terça-feira, 1 de agosto de 2017

RESTAURAÇÃO EM OITO ATOS

Venancio Jr

Ato I

O tempo de Deus

Uma palavra bonita e que a ouvimos em diversos cânticos e pregações. Restaurar é fazer novo algo já existente, porém, desgastado. Mas, o que implica uma verdadeira restauração? Quando chegamos na condição de pedir à Deus por restauração é porque julgamo-nos indignos de estar na tua presença. Isto demonstra a condição de um coração contrito. Um versículo interessante que fala sobre restauração está em Jeremias 29:11,12,13 quando foi escrita uma carta aos cativos da Babilônia: Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança. Então me invocareis, e ireis e orareis a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração. Apesar de na visão humana aparentemente estar tudo perdido, Deus está sempre atento às nossas necessidades, creia você ou não, e disposto a nos trazer um novo viver. Esta situação não significa necessariamente pessoas novas, ambiente novo ou qualquer outra coisa “palpável” ou pode ser isto também para tornar tudo novo. No caso, pode ser que seja uma nova perspectiva de vida sem que precise sair do lugar com um novo sentimento gerando uma nova motivação. Lembrando que esta condição não é o padrão de restauração. Algo novo é o que sempre buscamos numa restauração, pois, reacende a esperança de um novo viver. Porém, para que o novo surja, o velho deve ser retirado porque senão fica ou com cara de velho ou influenciado pelos velhos costumes. Agora complicou porque não adianta o exterior ser sadio e o interior continuar doente porque sem este processo não haverá restauração. Absolutamente nada vai mudar. Se a Igreja precisa de restauração, os conceitos, as doutrinas e os dogmas envelhecidos pelos costumes, deverão sofrer este processo de expurgação. Muitas vezes isto dói muito porque remexe um passado mal cicatrizado e a ferida é novamente aberta e precisará de um novo tempo para remover as infecções e muita paciência no processo de cicatrização. Superando este processo, os conceitos valorizados precisarão ser revistos e renunciar a eles é difícil. Muitos são tratados com carinho e até predileção julgando que sejam importantes. E as vontades, o que faria com elas? O que resultou de positivo em fazer a própria vontade? É importante continuar insistindo em supervalorizar o que se sente e dar vazão a elas? O processo de restauração exige renúncia. Não há outro caminho quando o que se precisa é renunciar às coisas velhas e ter tudo novo de novo. O processo é de dentro para fora e não o inverso. No processo de restauração as coisas velhas não convivem com as novas. Mas Deus incomoda mostrando que devesse ser restaurado de acordo com os princípios da sua palavra. Não conheço alguém que tenha passado por uma restauração sem sacrifícios e sem lágrimas porque é preciso retirar as infecções emocionais para que a ferida sare. Isto dói muito. O desejo deve estar sempre diante de Deus porque a vontade dEle para a nossa vida é perfeita e agradável e se deve permitir que seja colocada no coração. Aceitar a vontade de Deus é algo difícil quando se está sofrendo em busca de uma solução urgente. Muitos traumas são gerados porque busca-se a própria solução. Primeira ação válida para um início eficaz de restauração é ter atitudes de sabedoria. O temor ao Senhor é o princípio da sabedoria. Meditar na sua palavra e confiar a Deus suas ações e emoções sejam os anseios, as dúvidas, as tristezas, as angústias, a alegria, o prazer e a esperança para que tudo seja restaurado. A restauração não é um processo de magia. A cicatrização acontece após a cura das feridas que leva tempo e sofrerá um processo contínuo quando serão curadas. O processo de restauração exige tempo, o tempo de Deus.


Ato II

O “Eu

Palavra tão pequena, mas, quando “explode”, toma as rédeas e pode causar estragos irreparáveis. Porém, mesmo eclodindo, existe uma força quando potencializada, a sua capacidade de construir e a envergadura em reunir interesses que beneficiam o meio vivente, propiciará grandes benefícios. Seria ótimo se esta condição fosse permanente. Mas, o “eu” está sempre disposto, seja para o bem, seja para o mal. Sem perceber, ele sobressai e começa a ditar as regras, define o caminho e pode nos colocar em várias enrascadas que nos deixam aviltados. O “eu” quase nunca é submisso. Quem pode dominá-lo ou domá-lo? A Bíblia refere-se ao “eu” como algo perigoso. O “eu” nunca pode estar sozinho com autonomia para decidir. Ele deve ser controlado. Quem pode controlar o “eu” que é composto de personalidade e caráter? Qualquer um deles pode controlar o “eu”. Toda a problemática do “eu” começa quando foi expulso da presença de Deus. Lemos isto em Romanos 3:23, Todos pecaram e destituídos da glória de Deus. O termo “destituído” é interessante porque significa que nos foi retirada a glória que estava em nós, melhor dizendo, estava no “eu” que era submisso. Nesta "nova" condição o “eu” foi desfigurado e perdeu a característica celestial. Deu rumo à sua própria vida. Decidiu seguir o seu próprio caminho e ignorou as consequências para o qual ficou sujeito. Quando o “eu” decide, desconsidera totalmente as implicações desta decisão. Mas como podemos domar o “eu”? Simplesmente, não é possível. O “eu” é incontrolável. A personalidade reage frente ao imprevisto e faz mau uso dele. Assim como o caráter, que age e foi, obviamente, descaracterizado, também faz mau uso dele. O que nos resta fazer para que as decisões do “eu” não destruam o que nos envolve como o próprio “eu”? O apóstolo Paulo exemplificou com a sua própria vida. Paulo era oficial do exército romano. Nesta condição, fazia o que mandavam. Cumpria, a rigor, ordens superiores. Porém, os métodos e as formas como fazia, era ele, ou melhor, o “eu” dele que decidia, porque imprimia o seu próprio ritmo a níveis de crueldades absurdas. Era uma pessoa nefasta e com várias pessoas que o odiavam e eram os seus potenciais inimigos. Na verdade, odiavam o “eu” dele. Quando fazemos o que queremos, o “eu” é quem está dominando todo o ser composto pela personalidade e o caráter. O apóstolo Paulo quando teve um encontro pessoal com Cristo, ouviu o porquê O perseguia. O “eu” de Paulo retrucou: quem és tu? A partir deste momento iniciou-se o confronto interior do “eu” de Paulo. E esta batalha o acompanhou até o fim da sua vida. O que nos coloca em maus lençóis é a personalidade que reage com os impulsos. Já, o caráter, tem a capacidade de nos levar à condenação eterna, caso, não seja transformado pelo poder de Deus. Caráter e personalidade, repito, formam o “eu”. Ambos precisam ser domados e anulados em suas decisões. Mas, como assim, anulados? Então eu deixo de existir? Exatamente! Não decidimos mais pela nossa vida porque fomos comprados e temos um novo dono. Leiamos o texto de Romanos 8:10 “Ora, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça”. É exatamente isto, o “eu” deve estar morto, crucificado com Cristo e reviver justificado pela sua graça. Como sofremos quando deixamos o nosso “eu” tomar a direção da nossa vida. O “eu” deverá seguir o mesmo caminho de submissão. Não adianta insistir em corrigir o “eu”. Ele foi desfigurado e descaracterizado. Somente Cristo é capaz de anular as más intenções do “eu”. Não pense que é tarefa fácil submeter o nosso “eu” a Cristo. É algo muito difícil que exige renúncia. Uma luta constante. A carne luta com o espírito. São adversários, Gálatas 5:17. E uma das grandes atitudes é anular as tendências da carne. Cristo usou um termo bem “cruel”, porém, necessário para que o “eu” fosse dominado, “Negue-se a si mesmo” (Mateus 16:24) quando deu a opção, quem quiser seguir, o “eu” tem de ser submisso a Cristo porque é impossível segui-lo fazendo o que bem entende. Não se trata de uma despersonalização, mas, de descaracterização. Deus muda o caráter e não a personalidade. A chatice é uma questão de personalidade. Se você é chato, continuará chato, caso não administre a sua personalidade. Deus não nos tira a capacidade de raciocinar porque a sabedoria e o bom senso, amplamente discorrido em provérbios são capacidades da razão. Quando a intenção é má, a razão desperta para uma decisão sábia e sensata. Este é o processo de submissão do “eu”. Basta seguir com rigor o que a Bíblia nos diz. Um “eu” submisso não é garantia de ausência de problemas. “...no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” João 16:3. A capacidade de superação numa condição de submissão não pertence mais ao “eu”. Tornando-nos submissos, não ficamos abandonados porque o Senhor peleja por nós. Deuteronômio 3:22.


Ato III

O coração

Na jornada rumo aos propósitos que Deus planejou para nós, há muitos obstáculos. O livro de Provérbios 12:25 alerta-nos: “...o coração ansioso deprime o ser humano”. Somos sujeitos a toda e qualquer tipo de dificuldades físicas e emocionais. De qualquer forma, não devemos permitir que sejamos debilitados. Cabe à nós evitar que permaneçamos caídos e isto depende fundamentalmente das ações e intenções do coração de onde provem o bem e o mal. Não falo somente das nossas práticas devocionais, tais como oração diária, leitura e meditação da palavra que são disciplinas de fortalecimento e que nos mantém em pé, mas, de atitudes que refletem o nosso relacionamento com as pessoas com quem convivemos e, principalmente, com Deus. Podemos esconder das pessoas o que fazemos, mas, não de Deus. Em Jeremias 17 no versículo 10, Deus mostra que nada está encoberto: “Eu, o Senhor, esquadrinho a mente, eu provo o coração; e isso para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações.” O final do texto fala sobre o caminho que escolhemos e sobre as consequências das nossas atitudes. Conseguiremos avançar no crescimento a partir do momento em que as nossas ações sejam verdadeiramente condizentes com o princípio da palavra de Deus. Seguir este princípio depende fundamentalmente de um coração disposto a obedecer. Assim, removemos as “escamas espirituais” que nos cegam impedindo de enxergarmos a verdade e o caminho, nos ensurdecem impedindo de ouvir a orientação por qual caminho devemos prosseguir e bloqueiam o coração cauterizando a nossa consciência de sentir qual é a perfeita e agradável vontade do Senhor. Removidas as escamas, o risco em fazer a nossa vontade diminui que, muitas vezes, segue o que há em nosso coração. Em Jeremias 17:9 Deus revela tudo sobre o nosso coração: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer?”. O que podemos dizer de algo que a própria Bíblia diz que é enganoso? Ler a Bíblia e orar sem o discernimento do Espírito Santo conseguiremos identificar nos versículos apenas aquilo que nos interessam e nos manterá na nossa “velha criatura religiosa”. Uma condição perigosíssima porque podemos ficar chocados até a qual nível podemos chegar. A esta altura pode ser tarde demais, na melhor das hipóteses, fica muito mais difícil em retroagir. Os legalistas religiosos crucificaram Jesus porque o coração estava longe de Deus. Provavelmente, muitos deles se arrependeram em apoiar esta atrocidade, mas, já era muito tarde e o único arrependimento eficaz, a partir de então, seria dos pecados. A restauração, de fato, começa quando seguimos o que o apóstolo Paulo diz que o “eu” não vive mais, mas, Cristo vive em nós. Gálatas 2:20. Isto significa que a vontade pessoal não vale mais porque tem origem no coração enganoso e devemos deixar que Cristo potencialize as atitudes que nos reconduzirão ao caminho da verdade. Temos de ter em mente que a nossa carne quer permanecer no pecado, consequentemente, estaremos fora da presença de Deus. Quando a vontade de Deus em nosso coração torna-se soberana, as nossas atitudes mudam em prol do nosso crescimento e de todos com quem convivemos. Onde está aquilo que, de fato, tem valor? “Onde está o tesouro, lá estará o coração.” Mateus 6:21.


Ato IV

Ser cheio do Espírito Santo

O maior exemplo de uma vida cheia do Espírito Santo é Cristo. Mas, não constituem a mesma pessoa? Sim, é a mesma pessoa. A manifestação distinta da trindade foi necessária para que entendêssemos a missão de cada um. No caso de Jesus, considerando que, na sua peregrinação terrena, fora lhe dado todo o poder e autoridade, “Foi me dada toda a autoridade no céu e na terra”. Mateus 28:18. Nunca atraiu para si benefícios e nem demonstrou qualquer grau de soberba. Então, Jesus tinha o poder, mas, preferiu humildemente se submeter a autoridade de Deus-Pai. Ele mesmo enfatizou que não estava fazendo a vontade dEle, mas, do Pai que está no céu. O que entendemos quando lemos no livro de João 6:38 na própria palavra de Jesus: “Pois Eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou”. Outra afirmação de Cristo que, mesmo quando estava emocionalmente debilitado e profundamente triste porque se aproximava a sua crucificação, revela que era cheio do Espírito Santo, leia o texto de Lucas 22:42 “Pai, se queres, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!”. Se Jesus fizesse o que queria a sua natureza humana, nada daquilo que lhe fora confiado teria acontecido, inclusive o processo de restauração do ser humano. Ele estaria coberto de razão em fazer a tua vontade. Seria crucificado para o perdão daqueles que o traíram, condenaram e o mataram. Quem faria isto? Ninguém! Somente uma vida cheia do Espírito Santo é capaz de transpor barreiras aparentemente intransponíveis. Ser cheio do Espírito Santo é decorrente de uma vida com o foco em Cristo revelando a verdadeira submissão que produz frutos para o engrandecimento do Reino de Deus. Quais são os frutos do espírito? No livro aos Gálatas 5:22 ao 25, o apóstolo Paulo escreveu: “Entretanto, o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Domínio próprio, no caso, não é controlar a si mesmo, mas, submeter-se ao controle do Espírito Santo que age em nós. Contra essas virtudes não há Lei. Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os desejos do coração não regenerado. Crucificar a carne é anular as suas obras com a presença do Espírito Santo na vida de forma completa. Se vivemos pelo Espírito, andemos de igual modo sob a direção do Espírito”. Ser movido pelo Espírito Santo de Deus é depender da sua ação. Não há como produzir frutos do Espírito vivendo na carne. É preciso crucificação da carne. As obras da carne são podridão. No mesmo texto de Gálatas 22, a partir do verso 19 lemos: “Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatrias e feitiçarias; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e tudo quanto se pareça com essas perversidades...”. É preciso deixar que o Espírito Santo domine sua mente e o coração para tornar-se íntimo de Deus. Muitos confundem quando recebem o dom de línguas ou, mais conhecida como, batizadas com o Espírito Santo e julgam que são cheias do Espírito Santo e nunca ficam vazias. Ledo engano. Dom é uma condição permanente de Deus e ser cheio do Espírito Santo é uma situação provocada se permanecer na sua doutrina. Quando recebe o dom espiritual, mesmo que a pessoa produza frutos da carne, Deus não retira o dom que pode se manifestar a qualquer momento. Reitero que ter o dom espiritual não significa ser cheio do Espírito Santo. A pessoa pode ter os dons, porém, as atitudes podem revelar o inverso. Quando saímos da sua doutrina, os frutos da carne se manifestam e são providos de destruição. Permanecendo na sua doutrina, os frutos do espírito se revelam. Tudo que decide qual o caminho seguir é intencional, o de submissão a ação do Espírito Santo ou o de soberba de origem na carne. Se permanecermos na vontade da carne, com certeza, sofreremos uma contínua desfiguração do nosso caráter. Mas, se optarmos pela ação do Espírito Santo na nossa vida, a restauração será percebida nas nossas ações. Pelos frutos conhecereis a árvore. Jesus foi incisivo quando disse em Mateus 7:19 a 21, “Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e atirada ao fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo aquele que diz a mim: “Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus, mas somente o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” Não há outra opção. Não há plano B. É uma contínua busca, ser cheio do Espírito Santo para fazer a vontade de Deus. Confusão, crises, medo e angústia podem acontecer, mas, quando se é cheio do Espírito Santo, os frutos do espírito são revelados. Busque incansavelmente ser cheio de Deus nas ações e nas intenções submissas ao Espírito Santo de Deus.


Ato V

Caráter e Personalidade

O caráter está ligado a alma e a personalidade ao espírito. O caráter age e reage e a personalidade revela o que, de fato, nós somos. Basicamente é assim que funciona aquilo com o qual nos identificamos. Somos sujeitos ao meio em que vivemos e consequentemente sofremos as agruras impostas pela vida. Fomos condicionados a isto enquanto vivermos por aqui. Somos os responsáveis pelo sucesso e insucessos daquilo que decidirmos, consequentemente sofreremos as consequências destas decisões. O que nos controla e o que nos faz viver? Somos submissos a missão em busca de algo. Estamos em busca do quê? Daí deriva a palavra submissão. Isto significa que algo nos controla e estamos condicionados a um objetivo que é a busca por um ideal. Neste processo, somos plenamente convictos de que temos liberdade exacerbada para fazer o que quiser e como quiser sem qualquer critério que rege a nossa conduta. A maneira como agimos e reagimos na execução destes processos é que expõe o nosso caráter e personalidade. Ambos devem ser controlados pelo Espírito Santo porque uma vida insubmissa provoca uma desfiguração da personalidade e, principalmente, marcas indeléveis no caráter. Tem muitos que expõem o desvio de caráter na sua personalidade. Já, outros, conseguem manter ocultas suas mazelas comportamentais internas. Caráter e personalidade são coisas intrínsecas e não se pode separá-las. Quando um vai mal, ambos sofrem. Da mesma forma, não se pode separar a vida social, profissional e familiar da vida espiritual. A essência da vida é espiritual. Quando sai para o trabalho, para um churrasco ou em férias com a família, não se deixa a alma ou o espírito em casa. Em qualquer situação, o nosso todo (caráter e personalidade) está presente. A espiritualidade está condicionada a ação e reação do caráter. Em se tratando de caráter, infelizmente, não temos controle sobre o nosso caráter. Quando afirmamos que uma pessoa é de bom caráter, isto tem uma profundidade muito maior do que imaginamos na questão da bondade. Como não temos controle sobre ele, então, quem pode controlá-lo e modificá-lo quando necessário? Somente através de uma força sobrenatural será possível esta mudança. O poder sobrenatural de Deus muda o caráter. A personalidade, cada um administra a sua. Quando mal administrada, as consequências são gravíssimas podendo até perder a herança do Reino. Muitas características da personalidade podem ser reflexos do desvio de caráter. O que precisamos é de descaracterização e não de despersonalização. A espiritualidade herdeira do Reino precisa seguir e permanecer no caminho que qualifica aqueles que cumprem a vontade de Deus. Lendo desta maneira parece que nos tornamos escravos de um Deus cruel. Na verdade, fazer a vontade de Deus, considerando o mundo em que vivemos que jaz no maligno, é somente para os que são livres da condenação eterna. A verdadeira liberdade é ter um caráter e personalidade sem as máculas de uma vida pregressa quando tínhamos o caráter forjado na conformidade deste mundo. Quando o apóstolo Paulo escreveu no livro de Romanos 12:2 que não devemos tomar a forma deste mundo, mas sermos transformados pela renovação dos pensamentos, ele propôs que nos submetêssemos a ação do Espírito Santo de Deus. A renovação proposta é porque o pecado nos envelhece como diz o salmista no capítulo 32 verso 3, até consumir os ossos. A renovação do nosso ser não é pelo nosso mérito, mas, esta é a nossa parte no processo. A misericórdia e a superabundante graça de Deus nos sustentam e devemos ser submissos. A misericórdia de Deus se renova a cada manhã, Lamentações 3:23 e a sua graça é superabundante Romanos 5:20. Temos um caráter e personalidade livres quando restaurados pela ação do Espírito Santo de Deus na nossa vida.


Ato VI

Desconstrução do ser

Ser cristão é um processo contínuo e incessante de entrega do ser. No que implica este processo? O que adquirimos ao longo da vida, revela muito daquilo que realmente somos. Os anseios, os sonhos, os planos e vontades não deverão formar a nossa característica de cristão quando não submetidos a vontade de Deus. Podemos pensar: “Sou cristão há muito tempo e sei o que quero e o que Deus quer para mim porque Ele mudou a minha vida!”. Certo! Sendo cristão, julgamos de que tudo o que pedirmos esteja certo porque está de acordo com o que sentimos e podemos pedir a Deus tranquilamente que Ele irá nos abençoar de acordo com a nossa vontade. Errado! Isto é muito arriscado. Reconheço que seja uma questão de honestidade. Podemos desejar e até fazer algo certo ou errado e que esteja no nosso coração. Honestidade é, em suma, fazer o que quer ou o que está sentindo. O problema é que honestidade nada tem a ver com certo ou errado. Nesta condição apresentamos uma oração ilegítima quando apresentamos a Deus que ele faça da forma como queremos e perdemos totalmente a legitimidade das nossas petições. Não basta simplesmente ter na mente e sentir no coração. Tudo deverá ser submetido à vontade de Deus porque não sabemos orar. É preciso desapego do ter e uma integral e profunda desconstrução do ser. O apóstolo Paulo em Romanos 8:26 nos exorta de que “não sabemos o que havemos de pedir como convém”. Somente Deus nos conhece intimamente e sabe o que fazemos, Provérbios 15:03 “Os olhos do Senhor estão em todo lugar, vigiando os maus e os bons”. Deus nunca fará a nossa vontade a partir de nós, mas, fará o que nos convém pedir em conformidade a tua soberana vontade. No livro de Tiago 4:3 o texto é bem radical: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Infiéis, não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Isto é muito forte. Mas, por que fala da amizade do mundo? Exatamente pela ilegitimidade da oração. O sentimento está adulterado, foi construído sobre uma base disforme do propósito de Deus em total sintonia com os “sentimentos mundanos” e fora de sintonia daquilo que a Bíblia nos apresenta. Por exemplo, se você tem algo contra alguém e ao invés de orar por ela conforme a Bíblia ensina, ora a Deus que a faça ser prejudicada. Outra situação bem comum é quando toma uma decisão errada em algum negócio, mesmo assim ora a Deus para abençoar tentando atrair a vontade de Deus para a sua vontade pessoal e, desta forma, tentar consertar o erro. Totalmente ilegítimo. O melhor em qualquer situação certa ou errada é submeter aquilo que está na mente e no coração a vontade de Deus. Desconstruir a sua vontade e reconstruí-la na confiança em Deus. Acreditar em Deus é saber da sua existência. Crer em Deus é saber que pode todas as coisas. Confiar, além de saber da sua existência e de que pode todas as coisas, é entregar tudo a Ele, submeter toda a sua vontade e pensamento a Deus. Mente e coração submissos. Uma total desconstrução do “ter” para que Deus nos dê o que precisamos e desconstrução do “ser” para que Deus nos faça como Ele quer que sejamos.


Ato VII

A velha criatura

A vida pregressa do cristão é estar fora da presença de Deus porque fomos expulsos da tua gloriosa presença e tornamo-nos velhas criaturas perdendo a forma celestial. Não importa o que faça por mais bem-intencionado que esteja, nada fará mudar em relação a condição espiritual. Neste estágio, não se tem olhos para enxergar a luz de Deus, não se tem ouvidos para ouvir a voz de Deus e muito menos boca para glorificar a Deus, pois, não há motivos para isto. Olhos para enxergar, enxergar o quê? Enxergar a luz de Deus que nos conduz no caminho correto e evitar olhar para a direita e para a esquerda aquilo que faça tropeçar e se desviar. Olhos para enxergar a nova criatura agora restaurada pelo seu poder. Olhos para enxergar o quão bondoso Ele é e enxergar as suas obras e maravilhas. Ouvidos para ouvir, ouvir o quê? Ouvir a voz de Deus, através da tua palavra numa orientação e exortação. Quando estamos com os ouvidos atentos isto desperta um alerta e ignoram-se os maus conselhos e permanece no caminho da sabedoria. Ouvidos para ouvir o chamado para a grande comissão de Deus. Ouvidos para ouvir a voz do clamor dos que precisam de salvação. Boca para glorificar e exaltar ao Deus supremo. Boca para anunciar as boas novas de salvação a todos os povos. Boca para exortar, orientar e corrigir o que está perdido e precisa ouvir uma mensagem de alento. Boca para dizer não ao pecado. Boca para dizer não aos principados e potestades. Boca para dizer não aos maus conselhos vindos até de familiares. Boca para dizer não aos frutos da carne. Este é o comportamento do cristão. Uma vez cristão sempre cristão! Não é verdade! Enquanto estivermos no mundo sofreremos aflições e perseguições e poderemos cair e tornarmos novamente uma velha criatura sem se aperceber disto. Estamos envoltos em imoralidade, roubo, homicídios, lascívia e mentiras. Os principados e potestades do mal nos perseguem e agem para que caiamos. Uma vida de mentiras torna-se insensível a presença de Deus. No menor descuido produzimos estes frutos da carne revelando que caímos numa armadilha. Em Provérbios 14:12 lemos que “há um caminho que nos parece direito, mas, no final conduz a morte”. Este caminho é uma armadilha, é o caminho percorrido pela velha criatura. Morremos espiritualmente porque os nossos olhos não enxergam mais o caminho tortuoso e de destruição que estamos prosseguindo. Morremos porque os nossos ouvidos não ouvem mais a voz de Deus nos exortando. Morremos porque não conseguimos dizer não aos principados e potestades do mal. Morremos porque não conseguimos dizer não a mentira e ao diabo que é o pai da mentira. Quando acordamos deste pesadelo, já é tarde, os olhos estão vedados, os ouvidos tapados e a boca amordaçada, ou seja, mortos. Uma vez morto, deixa-se de orar como convém. Um morto não sente mais a vida que há na presença de Deus. Não que Deus esteja longe, mas, nós quem distanciamos de Deus. Morremos para Deus. Não conseguimos, sequer, orar porque não conseguimos mais sentir a presença do Espírito Santo. Oramos, mas, Deus não nos ouve mais. Nós também não conseguimos mais ouvir a voz de Deus. De tão longe, que Deus não nos enxerga mais e saímos do seu campo de visão. Lembrando que não existe a condição de "estar longe de Deus". Na verdade, estamos ou não estamos na sua presença. o termo "longe de Deus" é apenas para mostrar que estamos longe de qualquer possibilidade. Desta forma, nem conseguimos enxergar o caminho sobremodo excelente de Deus. Quanto mais o tempo passa, mais distante destas possibilidades estaremos e a nossa voz não será mais ouvida. Na verdade, mesmo não querendo, nos “libertamos de Deus” e nos tornamos escravos do diabo. Então, decidimos fazer do nosso jeito. Atropelamos o que seria melhor para nós, perdendo a razão e o bom senso. Aparentemente estamos bem, tal como o sepulcro caiado, por dentro a podridão se intensifica a cada decisão errada. O Espírito Santo não age mais em nós porque estamos mortos. Para sair deste estado de putrefação é preciso retirar a pedra do túmulo. Como um morto poderá retirar a pedra? A situação é crítica porque a pedra precisa ser retirada. Neste caso, o próprio morto é quem deverá retirar a pedra do seu túmulo, retirar as escamas dos olhos para enxergar a sua própria podridão, retirar os tampões dos ouvidos para ouvir a voz de Jesus dizendo: “Saia para fora!”, porque você está apodrecendo e retirar a mordaça da boca para pedir que Deus tenha misericórdia e ser ressuscitado daquela morte espiritual. Caso não reaja para retirar a pedra, não haverá ressurreição. Lázaro já estava morto a 4 dias e Jesus pediu que retirassem a pedra. Jesus queria ressuscitar o morto, então, por que não retirou a pedra? O milagre é Jesus quem faz, porém, a pedra somos nós quem a retiramos. Se não retirarmos a pedra do túmulo onde estamos mortos o milagre da nossa ressurreição não acontece e continuaremos a ser uma velha e desgastada criatura. A ressurreição só é possível em Cristo que nos faz uma nova criatura à sua imagem e semelhança.


Ato VIII

Mudança de perspectiva

Um dos mais graves problemas da atualidade é a crise existencial. Esta situação é identificada no cotidiano do trabalho, por exemplo, onde passamos a maior parte do nosso tempo e as vontades são tolhidas e cerceadas por uma personalidade mais forte. No ambiente familiar não é diferente, considerando que a relação é ainda mais estreita. Geralmente a pessoa em crise se acomoda pelo virtual conforto de não ter a preocupação em tomar quase nenhuma decisão. Desta forma, o referencial é perdido e não se tem mais qualquer identificação em que possa se firmar. A crise se manifesta quando a pessoa percebe que não há mais prazer no ambiente e nem com aqueles com as quais convive. Uma sucessão de situações de mágoas e frustrações desencadeia uma instabilidade emocional sem precedentes onde ocorre o início de uma depressão. É preciso fazer algo para mudar antes que se agrave mais ainda. Mas, neste estágio da crise, a pessoa não tem condições de raciocinar e nem mapear o ambiente a qual está inserida e muito menos identificá-la. A eclosão emocional aconteceu e causou estragos por toda a parte. O problema é exatamente este, estar combalido, pulverizado, em frangalhos e incapaz de se autoanalisar e encontrar o caminho que deseja. Qual o caminho seria menos doloroso, considerando que a esta altura qualquer decisão compromete relacionamentos e valores até, então, intocáveis? Um acúmulo de emoções e de sentimentos confusos que precisam ser extravasados para que não se torne uma bomba atômica pronta para explodir a qualquer momento. É como o problema dos acumuladores. Só que, neste caso, o acúmulo é emocional. Há uma sobrecarga que está escondendo o que, de fato, é essencial e confortável para se viver. A explosão provocada pelo excedente emocional é que deflagra a crise existencial. As pessoas que sofrem de crise existencial, na verdade, são vítimas de si mesmas sufocadas pela incapacidade de reagir adequadamente ao cotidiano de cada ambiente. Quando percebem que é hora de decidir, optam, de forma atropelada, pelo pior caminho e uma sucessão de erros tornarão a situação gravíssima com consequências quase irreversíveis. Ser vítima de si mesmo não há mudança de ambiente ou de pessoas que resolvam. Mudar os relacionamentos também não adiantará porque o problema está dentro de si. É impossível fugir de si mesmo. No auge da crise, tudo é joio e tudo é descartado. O melhor caminho é mudar a perspectiva. Esta é a hora de separar o trigo do joio. Nesta opção enxerga-se as pessoas e o ambiente de forma diferente sem sair do lugar e as consequências ruins são mínimas, quase imperceptíveis. Mágoas e frustrações serão descartadas e evitadas. É necessário que haja consciência de que há pessoas envolvidas que nada tem a ver e a boa relação precisa ser preservada. É preciso desapaixonar-se do lado ruim da rotina e assimilar o que há de bom. É preciso imprimir outro ritmo menos intenso. É preciso exigir menos, mas, bem menos de si mesma. Mudar a perspectiva é a forma eficaz e menos traumática, evitando sequelas causadas por decisões impensadas. Mudar a perspectiva é, em suma, mudar a si mesmo.

terça-feira, 4 de julho de 2017

NEGUE-SE A SI MESMO

Venancio Junior

Esta afirmação de Jesus às multidões tem uma profundidade e uma amplitude muito maiores do que imaginamos. Ela mexe no cerne do ego humano. Exatamente no ponto onde também se define o que somos enquanto criaturas. A intenção de Jesus é exatamente expor o que somos à nós mesmos. A renúncia propriamente dita e sugerida por Jesus depende de nós. Renúncia é arrancar de dentro para fora e expor numa exata cognição submissa. A afirmação de Jesus fala sobre a relação com Ele. Não se pode servir a dois senhores, ou serve a Deus ou ao ego. A relação com Deus depende totalmente desta negação de si mesmo. Mas, esta atitude em negar a si mesmo, não se limita a caminhada espiritual. Tem-se a triste mania em separar a vida cristã do resto que compõe o gênero humano como se fossem desconectados e cada um tivesse “vida própria”. Isto se chama falta de integridade. A composição do ser humano é espírito, alma e corpo e deve haver a conexão intrínseca de forma ampla e profunda para que haja integridade. Vida cristã é a vida em si e tudo o que a envolve. Nos relacionamentos sociais e familiares adota-se este mesmo princípio. Nas relações sociais seria impossível sermos absolutos e buscar somente aquilo que nos interessa. Não existe relação sem a entrega. Em Filipenses 2:3 lemos que devemos considerar os outros superiores a nós mesmos. Isto significa dedicação ao outro e, em absoluto, não significa se desvalorizar, mas, não agir com soberba onde há uma clara intenção em se autopromover. Em qualquer nível de relacionamento para que haja estreitamento e se descubra as afinidades, isto deve ser uma prática constante, caso contrário, o distanciamento será iminente. Quanto mais perto de si mais distante do próximo estará e será impossível seguir à Jesus porque Ele é também o próximo que deve ser considerado. Talvez uma das maiores crises que o ser humano viva é a do relacionamento, seja com Deus, com as pessoas e até, pasmem, consigo mesmo. Esta, talvez, seja a pior de todas, pois, quando não se consegue conviver consigo mesmo, não se pode esperar algo de positivo quando o próximo deve ser considerado em termos de dedicação e esforço para que continue sendo próximo, uma verdadeira humilhação. Ser humilhado é diferente de se humilhar. Humilhar-se é uma atitude nobre. Humilhar o outro é arrogância. Na atitude nobre de humilhar-se, o real valor é exposto quando a casca do orgulho, da vaidade e da arrogância é retirada porque o “inchaço” do ego não tem raiz. Aquilo que não tem raiz, não tem profundidade. Aquilo que não tem profundidade, não subsiste frente as dificuldades. Devemos deixar que as pessoas nos descubram. Estes predicados vão de encontro à afirmação de Jesus. Enquanto persistir os interesses do ego, o insucesso no relacionamento baterá à porta. Jesus enquanto viveu fisicamente aqui na terra insistiu na profundidade nos relacionamentos, porém, os discípulos e os demais tinham uma visão superficial. Muitas das parábolas de Jesus eram incompreensíveis para eles devido a esta falta de profundidade no relacionamento. Muitos eram fechados pela amargura e tinham medo de se expor ou até mesmo e, principalmente, pela religiosidade. A religião judaica, na época, era muito influente e uma fiel aliada do governo romano e dominava as mentes e o coração, inclusive daqueles que Jesus escolheu para serem seus discípulos. Neste cenário era difícil promover qualquer aprofundamento. O sistema era viciado e não permitia qualquer ameaça à sua influência nas pessoas e no modo como elas viviam. O aprofundamento em qualquer relacionamento só é possível quando permitimos o acesso ao nosso córtex cerebral. Este é responsável pela maioria das reações humanas. A princípio não é saudável o controle absoluto seja de si mesmo ou de outrem. O absolutismo é uma armadilha perspicaz que subjuga as emoções a uma condição egoísta e que destrói a capacidade de aprofundar nos relacionamentos. O princípio do relacionamento do gênero humano encontra-se em Genesis 2:18, “...não é bom que o ser humano esteja só!...”, quando houve a clara intenção de Deus em promover o relacionamento. Deus acertou em fazer isto? Cada um individualmente faça a sua consideração ou uma auto-análise se é bom ou ruim. Podemos dizer com certeza de que não é bom viver só. Não somente no aspecto conjugal, mas, nos relacionamentos sociais. Em qualquer um deles teremos problemas de atritos ou, como dizem, “incompatibilidade de gênios” e num sentido mais amplo, "incompatibilidade de gêneros". O importante é não desconsiderar e saber administrar para que o grau de relacionamento se aprofunde e crie raízes. Não podemos, como dizem, forçar a amizade, existem relacionamentos que não evoluem, por uma simples questão de personalidade. O relacionamento “exige” confiança. Isto não se impõe, mas, se conquista. Para conquistar a confiança de alguém primeiramente se parte da iniciativa em abrir-se e despojar-se dos conceitos e dos costumes acumulados. Repito, isto não é despersonalização e muito menos uma desvalorização da pessoa. Isto chama-se flexibilidade e ponderação. É uma atitude muito honrada que valoriza muito a construção de um relacionamento e o torna muito sadio. Sem esta entrega de si mesmo a estrutura emocional se desgasta e todos perdem porque o relacionamento se manterá na superfície apenas. Além de nada ganharem, nada construirão e perderão o que já conquistaram. Um grande exemplo desta entrega é no relacionamento conjugal, especificamente no ato conjugal, cada um deve procurar dar prazer ao outro porque no compromisso conjugal o corpo do marido pertence a mulher e o da mulher pertence ao marido (I Coríntios 7:4) para cuidar e dar prazer. Tudo a ver com o que texto bíblico em Atos 20:35 “Mais bem-aventurado dar do que receber”. Considerar o outro superior a si mesmo é não se considerar a si mesmo. Em hipótese alguma impor que sejas melhor do que o outro. Entregar-se em prol de alguém. Estar sempre aberto para incluir alguém na vida e permitir aproximação independente se o outro merece ou não alguma consideração. Isto é muito sublime e digno de admiração. Jesus foi o maior exemplo de inclusão. Esta foi a sua missão. Não pense que foi uma tarefa fácil. Com os humildes demonstrava compaixão. Com os insensatos, arrogantes, presunçosos e ignorantes (fariseus e hereges) agia com o rigor que a situação merecia e nunca desrespeitou qualquer um daqueles com quem conviveu, nem mesmo Judas que o traiu e Pedro que o negou por três vezes. Não se respeita a pessoa por mérito, mas, pelo princípio da ética e educação. O reconhecimento do mérito para si próprio é soberba. Reconhecer o mérito dos outros é humildade. Nunca devemos excluir as pessoas da nossa vida. Ela mesma se exclui por não ter uma atitude de incluir aos outros na sua própria vida. Quem não tem disposição para incluir, provavelmente, sempre terá atitudes de exclusão, daí, surge o conflito consigo mesmo porque é impossível dissociar-se de si mesmo, vindo a depressão, a angústia que geram problemas emocionais profundos. Devemos ser pessoas livres para servir e atraentes na bondade, desta forma alcançaremos a razão do que é ser desprovido da autoafirmação do ter. Nunca devemos ser considerados por aquilo que temos, mas, pelo que somos.

Campinas - Julho/2017

O DIABO, ESTE DESGRAÇADO!

Venancio Junior

O que podemos dizer sobre o diabo que foi desmascarado pelo próprio Deus como quem peca desde o princípio?

De onde surgiu e porque ele existe? Esta reflexão não é conclusiva em absoluto e não tem a intenção em promover um caminho.

Primeiramente vamos “explicar o inexplicável” no que se refere as entidades e manifestações. A Bíblia precisa ter uma leitura apurada porque há muitas “forças de expressões” para alcançar o entendimento humano. Muitas coisas que imaginamos complexas, na verdade, foram “simplificadas” para serem compreendidas. Por exemplo, a trindade divina, esta divisão de Deus em três pessoas é para que entendêssemos a ação distinta de cada manifestação divina. Particularmente, creio que no céu não encontraremos “três deuses”, Pai, Filho e Espírito Santo. Há um só Deus, porém, manifestados de forma distintas para um propósito específico. Deus é espírito. Obviamente, o Espírito Santo também é espírito. Jesus é carne, porém, quando assuntou ao céu, voltou à forma original, ou seja, espírito porque no céu não há matéria. Se Deus é espírito, então, Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, porém, diversificado nas ações. Deus é o criador soberano. Jesus é a entidade na terra e o Espírito Santo é a manifestação de Deus.

Sendo Deus criador, então precisamos saber o que Ele criou. Primeiramente leremos o texto onde temos ciência de onde surgiu o bem e o mal e a manifestação de todas as coisas. Isaias 45:7 “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu sou o Senhor, que faço todas estas coisas”. Aqui é o próprio Deus se manifestando e definindo as coisas. Percebemos que o Deus supremo é o criador de tudo, até do mal. Então, chegamos à conclusão de que o bem e o mal, diria, tem a mesma origem e “se completam” e o diabo, não é um indivíduo com vontade própria, mas, sim, a manifestação do mal porque em Deus, mesmo Ele sendo o criador do mal, em si não há maldade. Surge a indagação: Deus sem o diabo não seria completo? Errado! Puro é diferente de completo. Deus é puro e a existência é completa. O mal foi criado para que a existência fosse completa. O bem e o mal não são poderes equiparados. O bem sempre vencerá o mal porque Deus é soberano e bondoso. Satanás é a manifestação do mal. A existência para ser completa, deverá existir o mal, tal como existe o bem. Em Deus não existe maldade, mesmo Ele sendo o criador do mal conforme lemos em Isaias 45:7, então o mal não foi lançado em alguém, mas, foi manifestado. Trata-se, portanto, de uma entidade. Em vários trechos da Bíblia é tratado como principado e potestade. Talvez, possamos definir que satanás é a manifestação e o diabo é a entidade. Ambos foram jogados a terra por causa da soberba e o orgulho e peca desde o princípio conforme o texto de João 8:44 “ele é homicida desde o princípio “. Tendo Deus como referência, o princípio não existe fora de Deus. Se Deus criou o mal, então, satanás “veio depois” de Deus. Daí, não podemos definir que princípio seria este. Talvez, também, a terra aqui mencionada não seja o globo terrestre em que vivemos, mas, o abismo em relação à dimensão celestial que, de igual modo, não é o céu que nós vemos.

No livro de Ezequiel 28:17 lemos qual foi a principal causa da precipitação do diabo e de seus anjos à terra, “Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei;” Ainda no texto de Isaias 14:14 onde lemos o diabo declarando, “subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo”, demonstra que a soberba e o orgulho foram as principais causas da sua queda em todos os sentidos. Na carta do apóstolo Paulo de I Timóteo numa exortação a quem almeja o episcopado, foi utilizado o mau exemplo do diabo a respeito da soberba e do orgulho, “que não seja neófito (novo convertido), para que não se ensoberbeça e venha a cair na condenação do Diabo”.

 

Na Bíblia temos fatos da manifestação de satanás. O próprio Jesus foi tentado por satanás manifestado na entidade, o diabo, no deserto e na cruz. O diabo, contrariamente do que se imagina, nunca foi “maestro” do “coro celestial”. Quando Deus criou todas as coisas, demonstrou que a criação foi um ato completo e satanás é o mal em si manifestado.

A Bíblia relata diversas ações e o coloca como o nosso inimigo. Em I Pedro 5:8 está escrito: “O vosso adversário, o Diabo, anda em derredor,...” e na continuação do versículo afirma que ele é incansável e sempre pronto a nos destruir, “anda em derredor, rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar...”.

O filósofo Luiz Paulo Pondé é conhecido como ateu. Porém, tempos atrás afirmou algo interessante quando disse: “É impossível não existir uma força do bem que se contraponha a toda maldade humana que me parece não ter limite”. Não se iludam, julgando que ele tenha se convertido. Pondé apenas se convenceu de que Deus (talvez) exista.

Talvez algo que não tenhamos que confabular seja a soberania de Deus. Pois se trata de alguém que veio antes da existência. Melhor dizendo, Deus é a própria existência. Inútil discutir isto. Tudo o que existe foi gerado em Deus, até mesmo o mal que foi manifestado em satanás. A entidade e a manifestação foram distintas conforme lemos no texto de Apocalipse 12:9 E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele.

Muitos questionamentos são levantados sobre qual a razão de tudo. O que mudaria na nossa vida se soubéssemos o porquê das coisas? Por que deveríamos saber tudo? Na minha tosca definição, tudo absolutamente foi manifestado para que soubéssemos como funcionam as coisas. Deus criou a existência e tudo foi manifestado intencionalmente para sabermos o seu funcionamento.

Discorremos aqui especificamente sobre a manifestação do mal e seus implicadores. Legião de demônios, principados e potestades do mal são algumas das definições da manifestação do mal. Satanás é a manifestação do mal em si. O diabo é a entidade onde o mal foi manifestado. Os demônios podemos dizer que são os anjos que foram precipitados na terra.

Creio que satanás, o diabo e seus anjos (demônios), ainda não estão no inferno. O texto que lemos em Apocalipse 12:9 diz que todos os que se rebelaram foram “precipitados na terra”. Outra coisa interessante é que sempre achamos que satanás não iria sofrer no inferno, mas, o inferno foi feito para eles e não haverá quem não sofra no inferno. Mateus 25:41 lemos que o próprio Jesus quando apresentou algumas parábolas afirmou que “o fogo eterno foi preparado para o diabo e seus anjos”. O inferno é 100% sofrimento para todos os que estiverem lá. Em Mateus 8:12 diz que lá haverá “choro e ranger de dentes”. Que Deus tenha misericórdia de nós. O fogo eterno não é fictício, é real. Não adianta tentar se aproximar de Deus com medo do inferno porque só será salvo quem ama a Deus acima de todas as coisas e não por ter medo do inferno.

Considerando que não estão no inferno, onde estão e como agem o principado e as potestades do mal? O texto em Jó 1:7, o próprio Deus manteve um diálogo com Satanás e perguntou: “De onde você veio”? E satanás respondeu: “De perambular pela terra e andar por ela”. Tremendo este episódio porque sabemos que satanás está “passeando” pela terra no meio de nós. Em I Pedro 5:8 repetindo o texto lido acima, temos um alerta de que devemos “ser conscientes e vigilantes porque o diabo, nosso adversário anda ao nosso redor como leão e procurando a quem possa devorar”. Percebemos claramente que onde estivermos temos a companhia de Deus ou do diabo. Deus se apresenta à nós se o buscarmos. Satanás se manifesta na ausência de Deus que é a única força capaz de detê-lo. Isto é muito sério. Se satanás está ao redor procurando a quem possa tragar, então, ele influencia as nossas ações e intenções. Por exemplo, no episódio em Mateus 16:23 quando Pedro fez uso de sua forte personalidade, onde tinha mais intenções políticas do que espirituais, não podemos afirmar que ele estava possesso quando Jesus expulsou satanás logo após ele ter dito que não morreria, chegando até a repreender Jesus. Leiamos o texto: “Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: 'Deus não o permita, Senhor! Isso jamais te acontecerá!' Ele, porém, voltando-se para Pedro, disse: 'Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!”. Jesus não estava falando com Pedro, mas, com a influência satânica na personalidade de Pedro conforme vemos no final do texto.

A nossa vida fora da presença de Deus é um desastre porque estamos sujeitos as influências satânicas e praticamos coisas absurdas do ponto de vista moral, ético e espiritual. Por praticar tais coisas, isto não significa que estamos endemoniados. Sofremos influência na nossa personalidade dos principados e potestades do mal. Nossa vontade e pensamentos são adulterados por satanás de tal forma que achamos normal mentir e praticar imoralidades e perdemos totalmente a noção espiritual da nossa realidade e permanecemos no erro sem forças para reagir no sentido de deixar Deus cumprir o teu querer na nossa vida. Usamos até textos bíblicos tentando justificar os nossos erros e, provavelmente, ainda o fazemos em nome de Jesus. Isto é algo que causa repulsa em Deus. A Bíblia é o melhor livro como pode ser o pior livro do mundo quando distorcemos a palavra de Deus. Isto é influência satânica na nossa capacidade de discernimento, mesmo lendo a Bíblia, nos afundamos mais ainda no abismo espiritual que estamos imersos. Acredite, este poço não tem fundo e não sabemos até onde podemos chegar. É isto que faz a influência satânica. O diabo nunca foi provido da graça de Deus (peca desde o princípio), por isto é um desgraçado. Nossa luta não é contra nós mesmos. Nossa luta é contra os principados e potestades do mal (Efésios 6:12) que tentam e, muitas vezes até conseguem, dominar a nossa vontade, as nossas intenções e ações e os nossos pensamentos.

No texto de João 8:44 o diabo é tratado como homicida e mentiroso: “Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira". Quando cometemos erros, a nossa principal arma para esconder a verdade é a mentira e o diabo nos faz esquecer que sofremos a influência dele tal como Pedro quando tentou evitar a morte de Jesus. Fugir da influência de satanás não é tarefa das mais fáceis. Em I João 3:8 “quem comete pecado é do Diabo; porque o Diabo peca desde o princípio". Este texto é extremamente cruel e não deixa margens a dúvidas. Para que tenhamos uma vida, não diria sem a presença de satanás porque, enquanto estivermos neste mundo, poderemos sofrer a influência satânica e para fugir disto e para que a nossa vida não caia em desgraça, somente seguindo o que diz no texto de I Pedro 5:6 “estando humildes debaixo da potente mão de Deus para que no devido tempo Ele nos exalte”. Este termo “exaltar” é referente a nos levantar para ficarmos fora da influência do diabo e sermos alcançados pela superabundante graça de Deus.

Deus seja glorificado!

Campinas, Janeiro de 2017